Ministros do STF traçam linha do tempo do radicalismo no Brasil: "Começou em 2018"
Ministros afirmaram que o radicalismo no Brasil teve início ainda durante a campanha eleitoral de 2018, com discurso de ódio e fake news
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) afirmaram nesta quinta-feira (14) que o atentado contra a sede da Corte não foi um caso isolado. Segundo o presidente Luís Roberto Barroso, o ataque a bomba no STF da última quarta (13) “se soma ao que já vinha ocorrendo no país nos últimos anos”.
Barroso apontou que no dia 16 de fevereiro de 2021, o então deputado federal Daniel Silveira “publicou um vídeo com discurso de ódio, ofensas e ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal, num grau inimaginável de grosseria e incivilidade”.
No vídeo em questão, o parlamentar diz que os ministros do Supremo não servem para nada , “não têm caráter, nem escrúpulo, nem moral” e afirma que os ministros deveriam ser destituídos para a nomeação de “onze novos ministros”.
O ministro Barroso traçou uma linha do tempo em que aponta diversos casos de radicalização que ocorreram no Brasil desde a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na mesma linha, o ministro Gilmar Mendes afirmou que “a reconstituição histórica dos últimos acontecimentos nacionais demonstra que o ocorrido na noite de ontem infelizmente não é um fato isolado. Muito embora o extremismo e a intolerância tenham atingido o paroxismo em 8 de janeiro de 2023, a ideologia rasteira que inspirou a tentativa de golpe de estado não surgiu subitamente, pelo contrário. O discurso de ódio, o fanatismo político e a indústria de desinformação foram largamente estimulados no governo anterior”, se referindo a gestão de Jair Bolsonaro.
“Fruto de um sectarismo infértil, o radicalismo político grassou nas eleições de 2018, em uma campanha caracterizada pela ampla utilização das redes sociais para a difusão de ódio, ataques pessoais e fake news. Com o encerramento das eleições e instalações de um novo governo em 2019, essa estratégia influenciou não apenas a comunicação institucional do Palácio do Planalto, como também o discurso dos apoiadores que radicalizaram o debate político mediante a criminalização da oposição, desprezo às autoridades e ataque sistemático às instituições de controle que cerraram fileiras contra essas práticas”, afirmou o ministro.
Gilmar Mendes e Barroso fizeram uma linha do tempo do radicalismo no Brasil nos últimos anos, que, segundo os ministros, se iniciou em 2018.
Na mesma linha dos ministros, o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos, afirmou em entrevista coletiva que as explosões ocorridas na noite de quarta-feira, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, não configuram um “fato isolado, mas conectado com diversas ações que a Polícia Federal tem investigado”.
Linha do tempo do radicalismo no Brasil até o ataque a bomba no STF
Diante das declarações das três autoridades, o portal RIC reuniu os atos de radicalismo no Brasil nos últimos anos.
Em setembro de 2018, o então candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro, discursou em cima de um trio elétrico no Acre. Na ocasião, o político segurava um tripé na mão e simulava uma metralhadora. Ele falou “vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”.
Ainda no mesmo mês, Adélio Bispo esfaqueou Bolsonaro durante um ato de campanha, em Juiz de Fora, Minas Gerais. A Polícia Federal concluiu, em três inquéritos diferentes, que o homem agiu sozinho, sem apoio de terceiro ou de organizações.
Em outubro daquele mesmo ano, viralizou um vídeo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) afirmando que bastava um “soldado e um cabo” para fechar o STF. “Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo”, afirmou o filho do ex-presidente.
Em abril de 2020, o então presidente Jair Bolsonaro participou de uma manifestação em frente ao Quartel Geral do Exército, em Brasília, em que manifestantes pediram pela instauração de um novo AI-5, ato mais restritivo da ditadura militar no Brasil. Na ocasião, Bolsonaro afirmou que “não negociaria nada” em seu governo.
Já em maio de 2020, a militante Sara Winter reuniu um movimento intitulado “300 pelo Brasil”, e, com tochas nas mãos e vestimentas semelhantes àquelas utilizadas por movimentos supremacistas brancos dos Estados Unidos, marchou por Brasília promovendo palavras de ordem contra o ministro Alexandre de Moraes.
Em junho o grupo repetiu o feito, mas desta vez explodindo fogos de artifício contra a fachada do Supremo e afirmando que esse seria um recado para os ministros.
Em fevereiro de 2021, o então deputado Daniel Silveira chamou a população para invadir o prédio do STF e fazer um cerco contra os ministros. Silveira falou que era necessário tirar os ocupantes da Corte “na base da porrada”.
No dia 7 de setembro de 2021, manifestações ocorreram pelo Brasil. Os atos foram repletos de faixas e falas contra o STF, Congresso Nacional e pedidos de intervenção militar.
Julho de 2022, Jorge José da Rocha Guaranho, apoiador do ex-presidente, matou a tiros o militante petista Marcelo Arruda durante a festa de aniversário da vítima que continha o tema do Partido dos Trabalhadores e fotos do hoje presidente Lula (PT).
Em setembro daquele ano novas manifestações varreram o país com pedidos semelhantes ao ano que antecedeu: faixas pedindo por intervenção militar e ataques aos poderes da República.
Em outubro de 2022, o então deputado federal Roberto Jefferson desrespeitou ordem do STF e atacou policiais federais com tiros de fuzil e granadas “em nome da liberdade”.
Ainda em outrubro do mesmo ano, a deputada federal Carla Zambelli (PL) perseguiu com arma em punho um homem que se manifestou contra o grupo político da parlamentar.
Após a eleição do presidente Lula, em 2022, as estradas do país sofreram bloqueios em novembro e dezembro. No mesmo período, iniciaram acampamentos em frente aos quarteis do Brasil todo. Os atos pediam a anulação do resultado das eleições presidenciais e intervenção militar, além de ataques aos ministros da Suprema Corte.
No início de dezembro de 2022, manifestantes contrários a prisão temporária de um apoiador do presidente Bolsonaro incendiaram ônibus e tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília.
Na véspera do Natal de 2022, as autoridades encontraram material explosivo acoplado em um caminhão tanque próximo ao Aeroporto de Brasília. Segundo as investigações, três pessoas que participavam dos acampamentos golpistas foram responsáveis pela tentativa de ataque. O material explosivo não foi detonado.
No dia 8 de janeiro de 2023, os manifestantes saíram dos acampamentos e marcharam para a Praça dos Três Poderes. Em atos de vandalismo, os apoiadores de Bolsonaro depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. A Polícia Federal encontrou evidências de que alguns apoiadores planejaram o sequestro do presidente Lula e do Ministro Alexandre de Moraes, levantando os endereços, rotinas e esquema de segurança no entorno das autoridades.
Ministros defendem que esses atos mostram o avançar do radicalismo no Brasil nos últimos anos, em especial apartir de 2018.
O autor do atentado do dia 13, Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiu França, participou dos acampamentos em frente aos quarteis e divulgou mensagens contra Alexandre de Moraes, Lula e outros políticos.
A Polícia Federal segue com as investigações e acredita que existe uma rede de radicalização por trás do atentado.
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