O apoio do governador impacta na eleição ao Senado?
Até o dia 15 de agosto, quando se encerra o prazo de registro das candidaturas, o cenário da eleição pode se modificar bastante. Se houver recursos na justiça ou uma eventual tentativa de impugnação do registro do candidato do União Brasil, este prazo poderá se alongar ainda mais.
Alguns dos candidatos apostam num recall de suas imagens do passado, como é o caso do atual senador Álvaro Dias, do ex-governador Orlando Pessuti e também de Sergio Moro. Outros apostam num discurso de renovação, caso de Aline Sleutjes (pela direita) e Desiree Salgado (pela esquerda). Ainda, temos aqueles que apostam numa transferência de votos de lideranças maiores, que seria o caso, principalmente, de Paulo Martins e Guto Silva.
Aqueles que creditam sua campanha nos apoios recebidos e no potencial de transferência de votos tomam como base principalmente o pleito de 2018, que viabilizou a eleição de candidatos pouco conhecidos ou até mesmo desconhecidos na onda gerada por Bolsonaro. Aqui no Paraná olham para a eleição de Oriovisto Guimarães, que foi alçado ao Senado graças ao apoio recebido do então candidato ao governo, Ratinho Jr. Mas será que esse fenômeno costuma se repetir?
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Para responder de forma mais assertiva adotei dois caminhos: um situacional (olhando pesquisas eleitorais) e outro pregresso (olhando os pleitos passados). Vamos ao os dados.
Como podemos perceber nos dados colhidos pelo Ipespe no início do mês de julho, de todos os políticos mencionados o apoio do atual governador é o mais impactante (positivamente) para a reflexão do eleitor quanto ao seu voto. Vale um alerta aqui: a questão busca avaliar qual a influência de determinado apoio, mas ela não pode ser lida como uma transmissão automática em que o candidato aponta e o eleitor segue.
Contudo,é bastante impressionante que um percentual tão grande de eleitores (⅓) leve em conta a indicação do governador na hora de avaliar seu voto ao senado. Olhando pelas lentes da situação delineada por essa pesquisa, o apoio do governador seria bastante relevante para qualquer candidato que busque disputar a eleição de forma competitiva.
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Agora, olhando para as eleições passadas, o que elas poderiam nos dizer sobre o quão determinante foi o apoio do governador? Na tabela abaixo apresento alguns dados das últimas 6 eleições ao governo e ao senado, cobrindo um período de 24 anos.
Ano | Cargo/Nome | Coligação | Percentual na eleição | Alinhado |
2018 | Governador Ratinho Jr. | Paraná Inovador (PSD, PSC, PRB, PR, PPS, PV, PHS, AVANTE e PODE) | 59,99% (3.210.712) | – |
2018 | Senador: Flávio Arns | Coligação do bem e da verdade para mudar o Paraná (REDE, PPL e DC) | 23% (2.331.740) | NEUTRO |
2018 | Senador: Oriovisto Guimarães | Paraná Inovador” (PSD, PSC, PRB, PR, PPS, PV, PHS, AVANTE e PODE) | 29,17% (2.957.239) | COLIGADO |
2014 | Governador Beto Richa | Coligação Todos pelo Paraná (PSDB, PROS, PSD, PP, PR, DEM, PSB, PTB, SD, PPS, PSC, PEN, PHS, PMN, PSDC, PSL, PTdoB) | 55,67% (3.301.322) | – |
2014 | Senador: Alvaro Dias | Coligação Todos pelo Paraná (PSDB, PROS, PSD, PP, PR, DEM, PSB, PTB, SD, PPS, PSC, PEN, PHS, PMN, PSDC, PSL, PTdoB) | 77% (4.101.848) | COLIGADO |
2010 | Governador eleito Beto Richa | Coligação Novo Paraná (PSDB, PP, DEM, PSB, PTB, PPS, PRB, PHS, PMN, PRP, PSDC, PSL, PTC, PTN) | 52,43% (3.039.774) | – |
2010 | Senador: Roberto Requião | Coligação A União faz um Novo Amanhã (PDT, PMDB, PT, PR, PSC, PCdoB) | 24,84% (2.691.557) | OPOSIÇÃO |
2010 | Senador: Gleisi Hoffmann | Coligação A União faz um Novo Amanhã (PDT, PMDB, PT, PR, PSC, PCdoB) | 29,5% (3.196.468) | OPOSIÇÃO |
2006 | Governador Roberto Requião | Coligação Paraná Forte (PMDB, PSC) | 42,81% (2.321.217 – primeiro turno) | – |
2006 | Senador: Alvaro Dias | PSDB | 50,51% (2.572.481) | OPOSIÇÃO |
2002 | Governador Roberto Requião | PMDB | 55,2% (2.681.811) | – |
2002 | Senador:Osmar Dias | Coligação Vote 12 (PDT, PPB, PTB, PTN, PRP, PTdoB) | 30,1% (2.776.250) | OPOSIÇÃO |
2002 | Senador: Flávio Arns | Coligação Renova Paraná (PT, PHS, PL, PCdoB, PCB) | 21,6% (1.995.601) | NEUTRO |
1998 | Governador eleito Jaime Lerner | Coligação Movimento Paraná Segue em Frente (PFL, PTB, PPB, PL, PSB, PPS, PSC, PSD, PST, PRN, PRP, PSL, PTN, PTdoB) | 52,2% (2.031.241) | – |
1998 | Senador: Alvaro Dias | Coligação da Social Democracia (PSDB, PSDC) | 28,3% (2.532.010) | NEUTRO |
Verifica-se que das 9 vagas de Senador que foram disputadas no período, apenas 2 foram preenchidas por candidatos coligados ao governador eleito. As outras 7 foram preenchidas por candidaturas de caráter neutro ou de apoio não explícito (3 cadeiras) e 4 por candidaturas claramente de oposição.
Pelo que conseguimos captar dos dados e dos eventos passados, podemos responder a pergunta do título dessa coluna da seguinte forma: provavelmente sim, o apoio do governador é importante pela eventual transferência de votos quanto também pela utilização da chamada máquina em prol de determinado candidato, mas não é determinante e nem sempre é suficiente. Ou seja, o eleitor sabe separar as coisas.