Falta de leitos, judicialização da saúde e infraestrutura dependem de gestão e recursos
Tanto no sistema privado, quanto no público, as queixas quando o assunto é saúde ganham sempre espaço no noticiário. Em 2030, o Brasil terá a quinta população mais idosa do mundo e, em 2030, o número de idosos ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos. Em 2050, a população idosa atingirá um quarto da população que vive no Brasil, segundo o IBGE. Esse dado requer, dos próximos governantes o olhar mais atento às políticas públicas de saúde.
Para o representante do Conselho Federal de Medicina (CFM) no Paraná e diretor médico do maior hospital pediátrico do país – Hospital Pequeno Príncipe – Dr. Donizete Giamberardino, o maior desafio para o novo governante do Paraná é sem dúvidas a “garantia ao acesso universal do cidadão ao Sistema de Saúde”.
Pesquisa recente do Datafolha, encomendada pelo CFM sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), revelou a percepção do usuário. Para o médico, “a pesquisa demonstrou que a falta de acesso surge como principal percepção, em todos os níveis, em outras palavras, desde a consulta na unidade básica de saúde, exames complementares para diagnóstico, médicos especialistas, cirurgias eletivas, leitos hospitalares de urgência, leitos de UTI, entre outras necessidades de saúde”, diz.
“Esta falta de acesso no sistema desencadeia processos de judicialização da Saúde que consomem cerca de 7% do orçamento da Saúde, agravando a gestão do SUS, subfinanciada e pouco eficaz”, alerta o conselheiro.
Hoje o maior desafio para os hospitais e unidades de pronto atendimento (UPA) é a gestão: “cabe aos Estados estabelecer uma rede organizada e hierarquizada, mas a eficiência da gestão municipal interfere de modo direto na atuação Estadual, pois uma atenção primária ineficiente acarreta desordem e retrabalhos. Neste sentido, há importância de rever o conceito de municipalização para estabelecer regionalização de territórios, população e epidemiologia correspondente. Também há necessidade de que a rede seja integrada e informatizada, o que representa mais um desafio no avanço da eficiência dos serviços prestados”, pontua Giamberardino.
O conselheiro do CFM também pontua que há o desafio de cumprir a meta de destinar 12% do orçamento executado, sem incluir questões como saneamento básico e benefícios a servidores estaduais, aos serviços de saúde. Para ele, os sistemas – tanto público quanto privados – necessitam urgententemente de compliance: “é preciso combater a corrupção e estabelecer contratos com metas estabelecidas, com indicadores de eficiência e qualidade”, reforça.
Outro ponto importante colocado pelo médico é em relação ao número de leitos hospitalares: “os números apontam para uma diminuição significativa dos leitos no estado do Paraná e principalmente em Curitiba. Sem dúvida há necessidade de leitos, principalmente de maior complexidade. A medicina nos últimos trinta anos mudou, os leitos recebem pacientes mais complexos e observamos hoje, hospitais terciários lotados e hospitais de pequeno porte com ociosidade de ocupação. Há necessidade de uma nova ordem, de visão técnica, deixando em segundo plano as decisões políticas eleitorais”, afirma.
Para o médico Donizete Giamberardino, o primeiro grande desafio será a melhoria do acesso, “implantando de fato um sistema único, organizado e hierarquizado, integralizando os municípios dentro de critérios técnicos, sob comando único. Ao aumentar a eficácia da atenção primária, resolvemos de fato 80% das situações, aprimorando a integração, as especialidades e exames diagnósticos e terapêuticos, para finalmente analisarmos a necessidade do número de leitos as necessidades da população”, pontua.
Por: Fabiana Genestra/RICTV