Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) – Negócios baseados em tecnologia na América Latina podem receber um volume recorde de investimentos de cerca de 20 bilhões de dólares em 2021, à medida que taxas de juros globais baixas motivam investidores a fazerem apostas cada vez maiores em startups da região, segundo estudo divulgado nesta quinta-feira.
Segundo levantamento feito pela consultoria Atlantico, aportes em empresas tecnológicas latino-americanas emergentes na primeira metade do ano somaram 9,3 bilhões de dólares, mas esse montante deve ser superado com folga na segunda metade do ano.
Se confirmado, esse patamar seria quase quatro vezes os volumes movimentados nesse segmento em 2020 e 2019, com 5,3 bilhões de dólares cada.
O número de startups investidas também deve ser recorde, chegando a cerca de 800, ante 526 no ano passado e 614 em 2019, de acordo com a Atlantico.
Por segmentos, o financeiro segue liderando, respondendo por cerca de 40% dos valores captados, com destaque para bancos digitais brasileiros Nubank, C6 e Neon.
Como consequência desse movimento, o número de unicórnios, jargão do mercado para startups avaliadas em ao menos 1 bilhão de dólares, tem se multiplicado rapidamente na América Latina. Segundo a Atlantico, eram quatro em 2018, subiram a 18 no ano passado e devem chegar a 26 até dezembro próximo.
Segundo o sócio da Atlantico Julio Vasconcellos, a percepção de que ainda há oportunidades na região em serviços ainda poucos explorados, como seguros, moedas digitais, crédito imobiliário e ecommerce tende a manter os aportes em startups crescendo por algum tempo.
“Alguém pode argumentar que tem uma exuberância, mas algumas startups já estão perto de dar lucro”, disse Vasconcellos, o que justificaria em crescimento sustentável de vários negócios.
Os dados mostram como a América Latina rapidamente se tornou o destino mais cobiçado de grandes investidores globais em negócios de tecnologia, uma vez que o isolamento social adotado para conter a pandemia da Covid-19 desde o ano passado acelerou fortemente a migração de negócios para o ambiente online.
Na semana passada, o japonês SoftBank lançou um fundo de 3 bilhões de dólares para investir em empresas de tecnologia na América Latina, tentando repetir o sucesso de seu primeiro fundo de 5 bilhões na região.
Esse fluxo de recursos tem alimentado planos bilionários de expansão por parte de gigantes de ecommerce que preveem que o mercado da América Latina poderá quadruplicar nos próximos anos, até níveis em que as vendas online em relação ao total atinjam patamares similares aos da China, onde já beiram 50%.
O Mercado Livre prevê fechar 2021 com oito centros de distribuição no Brasil e inaugurar mais um em 2022, usando parte de seu investimento previsto para 2021, de 10 bilhões de reais.
E o Magazine Luiza pretende dobrar sua área de logística de entregas até 2023 para 2 milhões de metros quadrados, com 450 centros de distribuição e a inauguração de mais 341 lojas.