Vítimas do 'Sheik do Bitcoin' acreditam que não há fraude e que vão receber grana de volta

por Giselle Ulbrich
com informações de Erick Mota, da RICtv
Publicado em 6 out 2022, às 22h57.

Quase todas as vítimas do “Sheik do Bitcoin”, o empresário Francisley Valdevino da Silva, o Francis Silva, que lesou milhares de pessoas no Brasil e no exterior dando um golpe com criptomoedas, relatam o alto poder de persuação do estelionatário e de pessoas ligadas a ele. A fala é do advogado que representa um grupo de vítimas.

O advogado André Portugal contou à RICtv que o poder de persuasão do grupo ligado a Francis é tão alto, que ainda há pessoas que acreditam que não houve fraude, que foi um problema pontual e que elas vão receber o seu dinheiro de volta. “Eles enrolam os clientes para não entrarem na Justiça e a empresa conseguir mais tempo para praticar mais fraudes”, alertou o advogado.

Uma das vítimas contou também à RICtv quando a fraude começou a vir à tona.

“No final do ano passado começamos a ver muitas justificativas. Geralmente eles (as empresas de Francis) pagavam saques na primeira semana do mês. Houve um atraso de 30 dias, que eles justificaram dizendo que era por causa de uma auditoria que estavam fazendo. Mas logo em seguida os contratos de 12 meses foram vencendo, e eles não pagavam ninguém. Diziam que a empresa estava passando por ‘reestruturação’. Os advogados enviavam notas dizendo que estava tudo certo, que era pra acreditarem na empresa”, disse uma das vítimas, que pediu para não se identificar.

Essa vítima, que era um profissional muito experiente no mercado de investimentos, não percebeu que se tratava de um golpe. Começou a receber lucros acima dos valores de mercado. Achava que era um negócio idôneo e começou a indicar amigos e familiares.

Juntos, eles investiram mais de R$ 2 milhões nos negócios de criptomoedas de Francis. Até hoje, receberam de volta só metade disso. “Agora ele está convertendo bitcoin e etereum na criptomoeda deles, que não tem valor nenhum e muito menos liquidez. E querem pagar a gente com isso, pra não assumir a fraude que cometeram”, disse a vítima.

“As empresas de Francis eram divulgadas de forma muito ativa nas redes. Também operavam por meio de franquias, tinham contatos com gente influente na sociedade. Pagavam remuneração mensal mais alta que o restante do mercado e justificavam dizendo que os rendimentos superiores eram por causa de softwares, que fazia todas essas operações, coisas que convenciam os clientes”, contou Portugal.

Fraude “descarada”

Mas Portugal alerta que, quando foi procurado pelas primeiras vítimas, em dezembro do ano passado, tratou de pesquisar as empresas ligadas a Francis e seus sócios. Logo descobriu mais de 90 CNPJs ligados ao nome de Francis e os sócios, algo que é muito comum a quem tem muitos devedores e não paga ninguém.

Descobriu ainda que algumas destas empresas nunca tinham sido divulgadas aos clientes. E eram justamente nelas, que não tinham praticamente nenhuma movimentação de negócios, que estava concentrado o patrimônio multimilionário das holdings de Francis. Nas empresas expostas aos clientes, havia pouco patrimônio registrado.

Assim que Francis soube que a questão ia ser colocada na Justiça pelas vítimas, diss eo advogado André Portugal, dois dias depois o “sheik” começou a se retirar da sociedade destas empresas “ocultas”. E a passar o patrimônio para outras holdings. Segundo o advogado, uma nítida forma de ocultar o patrimônio, que tinha aviões, jatos avaliados em mais de 40 milhões de reais, mansões holywoodianas em Santa Catarina e outros estados.

Os sócios de Francis, também pesquisou o advogado, tinha históricos de fraudes e ações ajuizadas em outros estados.

Operação da Polícia Federal

Todo o esquema foi colocado a público nesta quinta-feira, com uma operação deflagrada pela Polícia Federal. A investigação foi iniciada após um alerta da Interpol, o serviço de inteligência americano informar a Polícia Federal sobre a fraude de uma empresa americana, que tinha lesado pessoas nos Estados Unidos, e que o gerenciador de tudo estava sediado em Curitiba.

Clique aqui e leia mais sobre a investigação da Polícia Federal.

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