Se tem alguém que conhece praticamente todas as lendas urbanas de Curitiba é a escritora Luciana do Rocio Mallon. Desde a adolescência ela se dedica a coletar “os causos” da cidade. Adulta, publicou tudo em livros. São mais de 300 histórias, e há de tudo. Desde curiosidades, de como surgiu o nome de alguns bairros, a histórias macabras.

Luciana conta que, desde a infância, nunca gostou dos contos de fadas. “As princesas sempre casavam com o príncipe no final, viviam felizes para sempre. A bruxa era sempre má. Eu achava isso tão chato, tão discriminatório. Por que não casava com o gari, com o pedreiro? Eu gostava quando a história era do príncipe sem cabeça, que a princesa virava fantasma. Eram as coisas misteriosas que me divertiam“, conta a escritora.

As histórias que colocou nos livros, Luciana coletou de dois jeitos. Primeiro, foram as histórias contadas pelos mais velhos na família. Depois, já adolescente, foi trabalhar no crediário de uma loja. Na hora de fazer o cadastro das clientes, ela sempre perguntava se no bairro delas tinha alguma história fantasma, alguma casa mal assombrada.

Se o patrão da Luciana gostava daquela conversa toda em pleno trabalho, não se sabe. Mas a jovem e as clientes passavam horas se deliciando com as histórias antigas. E ela ia anotando tudo, pesquisando. Assim surgiu o livro “Lendas Curitibanas”.

Mas a gente não veio aqui só falar da história da Luciana. Certamente os leitores do RIC Mais estão curiosos para conhecer quais foram as lendas que a escritora coletou ao longo da vida. Então vamos lá! O conto a seguir no livro original de Luciana é mais extenso. Foi resumido e adaptado para esta reportagem.

A bailarina da Casa Hoffmann

A Casa Hoffmann, que fica no centro histórico de Curitiba, o Largo da Ordem, foi construída em 1890. Inicialmente, era uma tecelagem, pertencente a uma família alemã que veio se estabelecer no Brasil. Depois de anos, o prédio histórico virou uma escola de dança, pertencente à prefeitura de Curitiba. E naquele local, no início dos anos 2000, morreu uma bailarina chamada Patrícia.

No centro de Curitiba morava um jovem cadeirante, o Pedrinho, que sempre passava por ali com seus cuidadores. Ele via a bailarina – ainda viva – dançando em uma das janelas altas do prédio e se apaixonou por ela. Todas as tardes pedia para os cuidadores o levarem ali, no mesmo horário.

Patrícia tinha um câncer. Um dia, enquanto dançava, desmaiou e morreu dentro da escola. Pedrinho nunca mais viu a amada e entrou em depressão. Até que uma noite, sonhou com a bailarina o chamando.

Ele se levantou, escondido dos cuidadores, pegou a cadeira e foi para a Casa Hoffmann, já de madrugada. A porta estava aberta e a bailarina saltou para a calçada, convidando o jovem a dançar com ela. Pedrinho respondeu que não podia, porque não andava. Foi quando a alma penada deu a mão para o rapaz, ele se levantou da cadeira e os dois bailaram até às 3h, como se nenhuma deficiência o rapaz tivesse.

E toda noite de luar, os dois repetiam o ritual, sempre até às 3h, e chamavam a atenção de quem passava por ali. Até o dia que Pedrinho desmaiou no meio de uma dança e morreu. Os dois espíritos deram as mãos e seguiram rumo ao céu.

Diz a lenda que a bailarina ainda mora na Casa Hoffmann. E sempre que há alguma aluna com dificuldade em algum passo, a “professora” vai lá e ajuda. Quando os alunos vão agradecer, nunca encontram a tal bailarina na escola.

Mas… a lenda é real?

Há poucos detalhes sobre a morte da bailarina. Já as danças com o cadeirante foram vistas por muitas pessoas nas madrugadas de Curitiba. Luciana afirma que há vários relatos. A morte do cadeirante… esta sim foi real.

“Se puxar os jornais da época, há alguns artigos falando do cadeirante que desmaiou na cadeira de rodas e morreu na frente da Casa Hoffmann. O mesmo que era visto dançando com uma bailarina de madrugada”, afirma Luciana.

Ficou curioso em conhecer outras lendas do livro da Luciana? Para adquirir um livro, entre em contato com ela pelo Facebook: Luciana do Rocio Mallon.

Luciana do Rocio Mallon e seu livro: Lendas Curitibanas. Foto: Arquivo pessoal

13 ago 2021, às 08h00. Atualizado às 11h29.
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