Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira que o PP passou a ser uma alternativa de filiação para que ele se candidate à reeleição no ano que vem.

Em entrevista a uma rádio do Mato Grosso do Sul, Bolsonaro afirmou que ainda está em busca de um partido que “possa chamar de seu” e no qual ele tenha o domínio para disputar a reeleição. Ele disse, no entanto, que essa busca está difícil.

“Tentei e estou tentando um partido que eu possa chamar de meu e possa, realmente, se for disputar a Presidência, ter o domínio do partido. Está difícil, quase impossível. Então, o PP passa a ser uma possibilidade de filiação nossa”, disse.

Bolsonaro tentou criar um novo partido, o Aliança pelo Brasil, mas desistiu diante das dificuldades de colher as assinaturas necessárias para o registro. Recentemente, ensaiou uma aproximação com o Patriota –seu filho Flávio, senador, chegou a se filiar a sigla– mas a negociação não foi adiante justamente porque Bolsonaro pretendia controlar o partido, mas esbarrou na resistência de parte da direção.

A intenção declarada de Bolsonaro é passar a controlar a estrutura da sigla a qual se filiar, o que tem dificultado negociações. O presidente chegou a cogitar voltar ao PSL e também conversou com o PRTB, partido de seu vice, Hamilton Mourão, mas nenhuma delas avançou.

A indicação do senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do partido, fortalece a negociação para essa filiação, de acordo com declaração de Flávio Bolsonaro ao jornal O Globo.

Bolsonaro já havia sido convidado a voltar ao partido, ao qual já pertenceu, e também a se filiar ao PTB, partidos com maiores bancadas e maiores estruturas, mas resistia porque ainda se mantinha na ideia de ser capaz de controlar o partido. Aliados, no entanto, defendem que ele se filie a um partido de maior estrutura para enfrentar uma eleição que promete ser complicada em 2022.

Expoente principal do chamado centrão, o PP é o partido com maior número de parlamentares denunciados na operação Lava Jato e era um dos alvos principais de críticas do então candidato Jair Bolsonaro. Ao ser questionado sobre essa relação, o presidente defendeu a nomeação de Ciro como uma necessidade para governabilidade.

“Minha aproximação com partidos de centro é pela governabilidade, eu sou obrigado a isso”, defendeu.

Apesar das negociações para filiação, Bolsonaro voltou a dizer que não está pensando em reeleição e que ainda não teria definido se será candidato, apesar de falar constantemente nas eleições e criticar possíveis adversários.

Pouco depois da entrevista, em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro afirmou que não tomaria decisão agora sobre partido e que não falava que era candidato porque isso seria “crime eleitoral” –na verdade, o crime seria fazer campanha antecipada, não se declarar candidato.

“Eu não posso falar que sou candidato agora porque é crime eleitoral. E outra, só vou falar em eleição no ano que vem. Março, como último mês de filiações, daí eu decido o futuro aí”, disse.

Bolsonaro ainda reclamou dos ataques que recebe de seus próprios apoiadores, o que costuma fazer quando toma decisões –como a indicação de Ciro Nogueira– que ferem a imagem, vendida na campanha, de que faria uma “nova política”.

“Qualquer coisa que acontece, tem um pessoal nosso que dá pancada em mim. Querem dar pancada? Tá bom. Quem é teu candidato para 2022? Não tem? Então cala a boca, pô. Para mim não é meio de vida disputar Presidência ou ganhar a Presidência. Isso aí é uma missão, né?”, reclamou.

Com o crescimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas –o petista aparece em primeiro lugar e vencendo a eleição nas sondagens–, o presidente ampliou os ataques à urna eletrônica e nas denúncias infundadas de possíveis fraudes.

Chegou a dizer que não haveria eleições sem a aprovação do voto impresso, e depois que poderia ele mesmo não participar se o Congresso não aprovasse a mudança na legislação.

O presidente admite, no entanto, que a proposta pode ser derrotada antes mesmo de chegar no plenário da Câmara.

“Hoje, se colocar em votação o voto impresso não passa na comissão”, disse.

Governistas conseguiram adiar a votação na comissão Especial da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata do tema para depois do recesso parlamentar e tentam negociar para reverter votos contrários mas, até o momento, a tendência ainda é de derrota.

A seus apoiadores, Bolsonaro disse que “não vai deixar acontecer o que ocorreu em outros países” e que quer “eleições limpas”.

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23 jul 2021, às 15h53. Atualizado às 15h55.
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