Chuva provoca sustos e deixa cenário de destruição em Florianópolis

Situação no bairro Saco Grande, em Florianópolis (Foto: Marco Santiago/ ND)

Na Rua da Represa, no Morro do Quilombo, um homem, de 31 anos foi arrastado pela força da água e continua desaparecido; pontes foram destruídas e estacionamento ficou submerso

*Michael Gonçalves, ND Online

A chuva que castiga Florianópolis desde a terça-feira (9) deixou um rastro de destruição em toda a Ilha de Santa Catarina. Os bairros Rio Tavares – no Sul da Ilha, e Ratones – no Norte da Ilha, além da comunidade do Morro do Quilombo – no Itacorubi, foram algumas das localidades mais atingidas por deslizamentos de terra e alagamentos registrados na quinta-feira (11). Um homem, de 31 anos, foi arrastado pela força da água na esquina da Rua da Represa e da Servidão da Jaca, no Quilombo, e continua desaparecido até esta sexta-feira (12).

A família pediu para que o nome da vítima não fosse divulgado ainda, porque o homem residia com a sua avó e ela não foi comunicada do desaparecimento. “Ele estava com o cotovelo machucado e protegido apenas com uma faixa. Disseram para a gente que ele tentou atravessar a servidão, que havia virado uma cachoeira e foi arrastado”, comentou a tia da vítima, que também não quer ser identificada.

O Corpo de Bombeiros fez buscas durante todo o dia e encontrou apenas o tênis do homem. A rua da Represa, por onde passa o transporte público, ficou completamente destruída. Apenas as picapes conseguem acessar o ponto mais alto da comunidade em segurança.

A autônoma Tatiana Muller, 36, que reside na comunidade há 17 anos, não consegue sair de casa com o seu veículo. “Além do rapaz, dois carros foram arrastados pela força da água. Chegamos a ficar sem energia elétrica durante boa parte do dia. A nossa preocupação é saber quanto tempo irão levar para recuperar as nossas ruas. No vendaval de dezembro de 2016, a empresa contratada pela prefeitura demorou 55 dias, porque disse que a comunidade do Quilombo não era prioridade”, reclamou.

O prefeito Gean Loureiro visitou a comunidade acompanhado de agentes da Defesa Civil. “Estamos monitorando a previsão do tempo, porque deve chover até amanhã (sexta), observando os estragos e preparando um plano de recuperação para locais como esse”, prometeu o prefeito.

Segundo o agente da Defesa Civil de Florianópolis, Alexandre Vieira, a comunidade do Morro do Quilombo é uma das localidades que estão sendo monitoradas. 

Pedra rola sobre residência no Saco Grande

A aposentada Tomazia Juraci Adriano, 88, acordou na madrugada de quinta-feira com um forte estrondo em sua residência no bairro Saco Grande. Uma pedra rolou na encosta e caiu sobre a área de serviço.

O telhado e uma parede ficaram danificados. “Acordei com um susto, às 2h30min, e a minha filha já estava batendo na porta. A pedra caiu sobre o tanque, que ficou completamente destruído. Também danificou a minha centrifuga, mas foram apenas danos materiais. Na próxima noite vou dormir na casa da minha filha por precaução”, comentou.

Queda de ponte divide o bairro Ratones

A queda de uma ponte na Estrada Intendente Antônio Damasco, bairro Ratones, dividiu a comunidade. O transporte coletivo não conseguiu realizar o percurso previsto. Com a queda da estrutura, a adutora da Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) também se rompeu. Os moradores improvisaram uma escada para conseguir passar pelo riacho.

O morador Luiz João Pedro, 54, ficou assustado diante de tanta destruição. “Resido no bairro há 15 anos e já passei por três enxurradas semelhantes, mas sem dúvida essa foi a maior. O problema é que coincidiram as fortes chuvas com a maré cheia”, lamentou.

Pontilhão cai e deixa família isolada em servidão do Norte da Ilha

Um pontilhão foi arrastado na madrugada de quinta-feira na Servidão Hercílio Augusto da Cunha, bairro Ratones, no Norte da Ilha. A força da água levou tudo que estava pelo caminho. “Escutei um barulho durante a madrugada, mas não tinha ideia do estrago. Duas árvores foram arrancadas e ficaram presas sob o pontilhão. A água desviou pelo lado e derrubou o meu muro. O pior é que o meu marido não conhece tirar o caminhão de casa para trabalhar”, comentou a dona de casa Micheli Fischer, 36.

Do outro lado do córrego, o rio também levou parte do terreno do aposentado Carmo Otávio Silva, 61, e a sapata da casa ficou desprotegida. Apesar do perigo, o aposentado disse que não pretende sair da residência. “Minha casa é de madeira e, por isso, não tem tanto perigo. Pior é a situação da minha irmã, que tem uma filha com paralisia cerebral e não tem como passar pela ponte. Precisamos pelo menos de uma passagem segura para os pedestres”, cobrou.

Família acorda com a casa alagada

Para a dona de casa Eloísa Helena de Carvalho, 48, o acumulado de chuva desde a última terça-feira é o maior dos últimos 35 anos. Moradora de Ratones há 45 anos, na Estrada Intendente Antônio Damasco, a dona de casa acordou na manhã desta quinta-feira com a água dentro de casa.

“Não tive como salvar nada, porque já acordamos, às 5h, com a água em todos os cômodos. A água subiu a altura de um metro e precisei desligar a energia elétrica. Os eletrodomésticos que consegui salvar vou levar para a casa da minha irmã, porque devo passar a noite na residência da amiga da minha filha”, desabafou.

Deinfra faz obra paliativa na SC-401

O Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura) realizou numa obra emergencial na rodovia SC-401, bairro Saco Grande, no sentido Centro/bairro, quase em frente da ACM (Associação Catarinense de Medicina). Isso porque a galeria de um canal não suportou o volume de água durante a madrugada de quinta-feira.

“Estamos realizando uma obra paliativa, para que as pistas da SC-401 não sejam afetadas. Como a galeria foi fechada pela sujeira e vegetação que desceram pelo córrego, a água subiu a pista e destruiu a base do pavimento, além de retirar a capa do asfalto. O objetivo é refazer uma parte da base para suportar eventuais precipitações na madrugada de sexta”, informou o superintendente regional da Grande Florianópolis do Deinfra, engenheiro Cleo Quaresma.

Estacionamento para 350 veículos fica submerso na SC-401

O estacionamento subterrâneo para 350 veículos do Centro Empresarial Dinamic, na SC-401, onde estão unidades do Fort Atacadista e das lojas Koerich, em Santo Antônio de Lisboa, ficou submerso com a insistente chuva na madrugada de quinta. Segundo o empresário Gilberto Martini, 52, que estava sem dormir há mais de 48 horas, o volume de água foi superior a galeria da rodovia estadual.

“A galeria não suportou a quantidade de água e transbordou para a marginal e como a rodovia forma uma barreira, porque está acima do nível do centro empresarial, a água retornou para o estacionamento. A bomba também não deu conta de retirar o volume de água. A nossa expectativa de retirar tudo até a manhã de sexta e, por sorte, não havia carro no local”, contou o sócio do empreendimento.

12 jan 2018, às 00h00.
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