Outdoor pedindo o fim dos privilégios a deficientes causa polêmica em Curitiba

Quatro outdoors espalhados por várias regiões de Curitiba chamam a atenção de quem passa pelos locais. As propagandas pedem o fim do direito das pessoas com deficiência e geraram uma discussão intensa nesta segunda-feira (30) na capital. Assinado por um grupo denominado Movimento pela Reforma de Direitos (MRD) os letreiros ilustram a frase “Pelo fim dos privilégios para deficientes”.

O grupo responsável pelo conteúdo também possui uma página no Facebook com 355 seguidores. Dentre as reivindicações do movimento está “o direito de nascer normal”. “Acreditamos que todo mundo nasce com os mesmos direitos. Inclusive nós, pessoas normais. Eu não tenho culpa de nascer normal, sem nenhuma deficiência. Você também não. Então, por que somos castigados por essa legislação”, afirma uma das postagens.

Repercussão

A propaganda foi criticada por diversos vereadores, nesta segunda-feira (30), durante a sessão plenária na Câmara Municipal de Curitiba. “Quem faz isso não tem amor no coração”, afirmou Zé Maria (SD).

O parlamentar do Partido Solidariedade utilizou o espaço dedicado às explicações pessoais, já no fim da sessão plenária, para pedir aos vereadores apoio no enfrentamento dessa ideia. “Não existe privilégio para as pessoas com deficiência. Vagas especiais e caixas exclusivos são sinais de respeito, são leis”, defendeu Zé Maria, que classificou o MRD como “movimento do ódio”. “Querem debater? Podemos debater. Não podemos é desrespeitar, que isso vira ódio”, concluiu.

“Hoje é contra as pessoas com deficiência, amanhã é contra outras pessoas. Temos que demonstrar nosso repúdio e descobrir a origem desse movimento, para denunciar ao Ministério Público”, afirmou Pedro Paulo (PT). “Olha a que pontos estamos chegando! Depois disso tudo vem a ditadura, vem o fascismo”, comentou Paulo Salamuni (PV). “Esse outdoor é absurdo. As pessoas estão perdendo a noção do ridículo”, afirmou Pier Petruzziello (PTB).

Leia mais: Outdoor pedindo fim do direito dos deficientes foi ação de marketing da prefeitura

Ação de Marketing

Devido a grande repercussão dos outdoors, muita gente acredita que tudo isso pode fazer parte de uma ação de marketing, já que No próximo dia 3 de dezembro é comemorado o Dia Mundial da Pessoa com Deficiência.

O movimento convocou uma entrevista coletiva para a tarde desta terça-feira (1°) no Hotel Radisson, no Centro de Curitiba. A postagem do grupo no facebook afirma que tem recebido muitas críticas e que a coletiva servirá para deixar seus “objetivos bem claros”.

Ideias polêmicas

Nas redes sociais, o MRD defende o fim das cotas em concurso público, o fim da gratuidade a deficientes, o fim da isenção de impostos na compra do carro zero, a redução de 50% em filas e assentos exclusivos e o fim das cotas para deficientes em empresas.

Além do perfil na rede social, o MRD também tem uma petição pública, já assinada por seis pessoas, em que defende essas medidas. “O Movimento pela Reforma de Direito tem objetivos muito claros. Queremos parar de ser prejudicados por leis que privilegiam uma minoria e esquecem a maioria”, dizem. Procurados, os responsáveis pelo movimento preferem não se identificar.

Consultada pela reportagem, a empresa responsável pela instalação dos painéis, a Favretto, informou que irá tomar medidas contra a propaganda. “Só tomamos conhecimento do conteúdo na hora da instalação. A direção da empresa está reunida neste momento para definir como iremos proceder”, afirmou a assessoria de imprensa do grupo.

A presidente da comissão de acessibilidade da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),  Berenice Reis Lesser, disse que o grupo que está promovendo tais reivindicações pode responder criminalmente pela ação. “De acordo com a convenção internacional da ONU isso é tratado como crime”, disse Lesser. “A ONU no mundo inteiro faz movimentos positivos nesta semana. Aí vem um movimento que denigre justamente na semana internacional da pessoa com deficiência?”, completou.

30 nov 2015, às 00h00.
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