No dia 30 de abril de 2020, a vida de Julia Alves da Luz, 58 anos, cobradora de ônibus, mudou totalmente. No momento em que ela seguia para entregar o saldo do dia de trabalho na empresa, foi atropelada e teve traumatismo craniano. Júlia foi atingida por um motociclista e chegou a ser arremessada com a pancada. Tudo foi registrado por câmeras de segurança.

“Ela foi fazer o acerto na empresa, como todos os dias há cinco anos. Descia no tubo da Marechal Floriano Peixoto e atravessava no meio da rua. Atravessava porque ali não tem onde atravessar, por medo de assaltos nas duas possíveis travessias”, disse Karoline Pereira, filha da cobradora.

A mulher ficou internada por 23 dias, passou da UTI para o quarto e recebeu alta, surpreendendo até os médicos. Isso porque todos acreditavam, e tinham até alertado a família, que Julia talvez não resistisse ou ficaria presa a uma cama.

“Graças a Deus ela anda, ela come, tem muita força no corpo, mas muita confusão mental. A língua está meio mole, o olho ainda está abrindo. Toda hora temos que ficar falando para ela que estamos na casa da minha irmã, que ela é a Julia. São sequelas neurológicas, o corpo está se movimentando bem”, disse Karoline.

Júlia chegou a ser desenganada pelos médicos, que acharam que ela não ia se recuperar. Foto: Arquivo Pessoal.

O acidente aconteceu bem em frente à empresa onde Júlia trabalha, na Linha Verde, próximo ao viaduto que passa pela Avenida Marechal Floriano Peixoto. Por lá, os cobradores se arriscam atravessando fora da faixa por medo de serem assaltados. Isso porque mais a frente, onde fica a faixa, a noite se torna muito perigoso pela presença de usuários de drogas que cometem pequenos assaltos e sabem que os cobradores passam por ali com dinheiro.

“Ela não estava errada. Não tem por onde passar. Se for na faixa, dos dois lados, ou é assaltado ou pode ser até assassinado. Ela atravessa todos os dias às 19h, quero ver uma pessoa atravessar uma rua perigosa assim todos os dias com mil, dois mil na bolsa“, explicou Karoline.

Cobradores se arriscam por medo de assaltos. Foto: Lucas Sarzi.

Motociclista imprudente, afirma a família

Para a filha da cobradora, o motociclista agiu sem pensar no que poderia acontecer. “Os carros sempre respeitam [quem atravessa naquele ponto onde foi o acidente], mas neste dia o rapaz da moto foi muito imprudente, pelo que nós acreditamos ele estava a 120 km/h. Ele provavelmente furou o sinal, não diminuiu, acelerou, e também não desviou. Tinha a pista toda, porque todos os carros passaram, ele veio com tudo”, comentou.

Depois que teve acesso ao boletim de ocorrência do acidente, a família descobriu que o rapaz que atropelou a cobradora não tinha carteira de habilitação para moto. “Ele não tem carteira de moto, tem a B, mas vencida, e ganhou a moto da mãe para poder trabalhar. Foi um crime“.

O que a família quer é que a justiça seja feita e que o rapaz responda pelo acidente. “Queremos que ele seja punido. Ele já foi até preso por embriaguez. O que que um rapaz que já foi até preso, tem um monte de multa, está circulando com a carteira em uma moto. Não poderia estar em meio a seres humanos. O minimo que eu faria era frear, independente se eu caísse e me machucasse”, desabafou a filha da cobradora.

Veja o vídeo da câmera de segurança que registrou o acidente:

Investigação não foi aberta

Segundo a Polícia Civil, o boletim de ocorrência, feito pela Polícia Rodoviária Federal, não chegou para a Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran). A PRF, por sua vez, informou que só encaminha boletins de ocorrência de acidentes com óbito, o que não é o caso.

Conforme a Polícia Civil, a família da vítima pode procurar a delegacia para que uma investigação seja aberta. Neste caso, a vítima e o motociclista devem ser ouvidos. Já na questão cível, a família também deve procurar a Justiça.

A reportagem do RIC Mais tentou contato com a família do motociclista. Apesar disso, não obteve retorno.

Karoline e a irmã contrataram uma advogada para ajudar. Foto: Lucas Sarzi.

Família precisa de ajuda para cuidar da cobradora

Enquanto isso, a família e a cobradora têm contado com ajuda das pessoas. Para ajudar, as pessoas podem entrar em contato direto com a Karoline, pelo telefone (41) 99729-0921 ou, se a ajuda for em dinheiro, através da conta bancária:

Karoline da Luz Pereira
CPF: 050.021.799-83
Conta Poupança Caixa Econômica:
Agência: 0375
Conta poupança: 013
Conta: 00116606-0

“A gente pede sim que as pessoas nos ajudem. Estou desempregada por causa da covid, minha irmã tem um filho de quatro meses, acabou que somos nós duas que estamos cuidando da nossa mãe. Nossa vida virou um pesadelo, que esse rapaz imprudente acelerou, não desviou e minha mãe quase morreu”, finalizou Karoline.

Júlia tem sido cuidada pelas duas filhas, que se revesam. Foto: Lucas Sarzi.

1 jun 2020, às 12h28. Atualizado em: 1 jul 2020 às 14h41.
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