SÃO PAULO (Reuters) – Depois de dar a largada à vacinação contra Covid-19 no Brasil, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), assegurou que o Estado entregará neste domingo 4,6 milhões de doses da CoronaVac, vacina do laboratório chinês Sinovac, ao Ministério da Saúde, e foi criticado pelo titular da pasta, Eduardo Pazuello.

“Após aprovação pela Anvisa, determinamos ao Instituto Butantan que inicie imediatamente a distribuição da vacina ao Ministério da Saúde. Os caminhões com as primeiras doses serão carregados rapidamente e ainda hoje seguirão para o depósito do Ministério da Saúde no aeroporto de Guarulhos”, garantiu Doria em entrevista coletiva no Hospital das Clínicas, onde os primeiros profissionais de saúde começaram a ser vacinados contra a Covid-19.

No Rio de Janeiro, onde deu entrevista coletiva logo após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) conceder autorização para uso emergencial da CoronaVac e da vacina Oxford/AstraZeneca, Pazuello criticou o início da vacinação em São Paulo, que classificou como “jogada de marketing”.

Ele disse ainda que a vacinação da enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, a primeira brasileira vacinada contra Covid-19, ocorreu “em desacordo com a lei”.

“O Ministério da Saúde tem em mãos, neste instante, as vacinas tanto do Butantan quanto da AstraZeneca e nós poderíamos, num ato simbólico ou numa jogada de marketing, iniciar a primeira dose em uma pessoa”, disse Pazuello.

“Mas em respeito a todos os governadores, prefeitos e todos os brasileiros, o Ministério da Saúde não fará isso, não faremos uma jogada de marketing“, afirmou, numa alfinetada em Doria, que acompanhou ao vivo juntamente com a imprensa a primeira vacinação em São Paulo.

Doria, por sua vez, rebateu o ministro e disse que Pazuello mentiu durante entrevista coletiva quando disse que não houve um centavo do governo do Estado de São Paulo nos esforços pela CoronaVac. Afirmou ainda que o governo federal faz “golpes de morte”, não de marketing, com os brasileiros.

“Ministro Pazuello tenha um pingo de humildade. Eu sei que é difícil para o senhor e para Jair Bolsonaro terem esse sentimento, mas tenha um pingo de humildade para reconhecer o esforço que São Paulo fez”, disse o governador paulista.

Desafeto político do presidente Jair Bolsonaro, Doria é apontado como provável candidato à Presidência da República na eleição de 2022. Bolsonaro já anunciou que buscará a reeleição no pleito.

Doses de esperança

Também presente na entrevista coletiva, o presidente do Butantan, Dimas Covas, afirmou que o órgão encaminhará ao depósito do Ministério da Saúde 4.636.936 de doses da CoronaVac das 5.994.576 disponíveis no momento. Ele explicou que a parte que cabe a São Paulo no Plano Nacional de Imunização –1.357.640– permanecem no Estado.

Covas e Doria garantiram que esse montante foi o determinado pelo Ministério da Saúde no âmbito do PNI. O presidente do Butantan disse que recebeu a tabela com o número de doses destinadas a São Paulo por mensagem via WhatsApp do secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Arnaldo Medeiros. Doria prometeu divulgar para a imprensa essa mensagem.

“A prática sempre foi essa em todas as vacinas. O Butantan produz, o Butantan entrega a cota nacional em Guarulhos, o Butantan entrega a cota do Estado no CDL (Centro de Distribuição e Logística), que é da Secretaria de Estado da Saúde”, disse Covas.

Sempre foi feito assim, por que haveria se der diferente agora? Por que deveríamos fazer diferente agora, entregar todas as vacinas em Guarulhos e depois pedir à secretaria que buscasse essas vacinas? Qual o sentido disso?”, questionou.

Na coletiva, Doria também disse que São Paulo enviará já na segunda-feira ao Amazonas 50 mil doses da CoronaVac para serem aplicadas em profissionais de saúde daquele Estado, que vive a situação mais dramática da pandemia de Covid-19 no Brasil, com pacientes morrendo asfixiados em hospitais por falta de oxigênio.

O governador disse que fará o envio direto ao Amazonas, pois não confia mais no Ministério da Saúde.

Covas explicou que o montante que será enviado a Manaus não faz parte do total de vacinas comprometidas com o PNI. Segundo ele, são doses que seriam usadas em estudos clínicos e controle de qualidade e que pertencem ao Butantan, estando fora, segundo ele, do escopo do contrato de fornecimento firmado com o Ministério da Saúde.

Por Eduardo Simões

(Reportagem adicional de Leonardo Benassatto, em São Paulo; Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro, e Ricardo Brito, em Braília)

tagreuters.com2021binary_LYNXMPEH0G0I3-BASEIMAGE

17 jan 2021, às 19h06. Atualizado em: 18 jan 2021 às 07h22.
Mostrar próximo post
Carregando