Irmã de Leandro Bossi escreve carta com indignação: “estava em um saco plástico em algum IML”
O caso do desaparecimento de Leandro Bossi ganhou um novo capítulo nesta sexta-feira (11). Em uma coletiva de imprensa, organizada pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR), foi comunicado que exames apontaram que uma ossada apresenta 99,99% de compatibilidade com o perfil genético de Paulina Bossi, mãe da criança desaparecida em 1992. Entretanto, a informação não trouxe alívio aos familiares.
Neste sábado (11), um dia após a confirmação do Governo do Paraná sobre o caso, a irmã por parte de pai de Leandro Bossi escreveu um relato, com exclusividade ao portal RIC Mais, sobre a reação e o sentimento diante da novidade. Em formato de carta, Neli Steffen Bossi revelou que o sentimento de tortura e angustia estão ainda piores.
Família de Leandro Bossi recebe notícia de ossada
De acordo com Neli, investigadores entraram em contato com a mãe de Leandro Bossi, Paulina Bossi, nesta sexta-feira (10). Após não conseguirem contato, devido a uma cirurgia que a mulher realizou recentemente, as autoridades acionaram Lucas Bossi, irmão mais novo de Leandro.
Por telefone, Lucas recebeu a notícia que uma ossada encontrada em 1993 – que já havia sido analisada e identificada como de uma criança do sexo feminino – passou por um novo confronto de exames e apontou ter 99,99% de compatibilidade com o DNA de Paulina Bossi. Com isso, a Sesp-PR concluiu que a ossada era de Leandro. Logo na sequência, Lucas comunicou as outras três irmãs – Neli, Gabriela e Cristiane.
“É inevitável a comoção, o nervosismo, o desespero, enfim foi uma mistura de sentimentos. De um lado o alívio de enfim saber onde ele está, mas, por outro lado, nesse momento o sentimento é de revolta. Meu pai viveu em busca de um filho que estava em um saco plástico em algum IML da Justiça. Essa mesma justiça que em 96 nos entregou um menino dizendo que era meu irmão. Fizeram festa, passeata, um desfile com carro de bombeiros e tudo, e após 23 dias tiraram esse garoto dos braços do meu pai que não era seu filho. Isso foi um verdadeiro espetáculo de circo onde minha família sempre foi os palhaços”,
desabafou Neli.
Em outro trecho da carta, Neli relembra momentos de angústia que todos os familiares viveram nos últimos 30 anos. A mulher destaca principalmente as buscas realizadas pelo pai, João Bossi, que morreu em abril do ano passado.
Confira a carta exclusiva ao RIC Mais
Ontem (11), eu estava trabalhando quando meu irmão Lucas nos avisou no grupo dos irmãos que Leandro estava morto… Foi como se abrisse um buraco aos meus pés. Inicialmente ficamos sem palavras. Logo após ele fez uma chamada de vídeo com os quatro irmãos Lucas, Gabriela, Cris e eu, e também minha mãe Rose, onde nos explicou que a ossada da menina era na verdade o Leandro… Que a atual delegada após o documentário “O Caso Evandro” procurou investigar a ossada de 93 e no teste de DNA ficou comprovado que se tratava dele. O SECRID tentou entrar em contato com a Paulina, mas ela acabou de se operar de um câncer ocular então eles foram até a residência dela para dar a notícia. E posteriormente entraram em contato com o Lucas.
É inevitável a comoção, o nervosismo, o desespero, enfim foi uma mistura de sentimentos, de um lado o alívio de enfim saber onde ele está, mas, por outro lado, nesse momento o sentimento é de revolta. Meu pai viveu em busca de um filho que estava em um saco plástico em algum IML da Justiça, essa mesma justiça que em 96 nos entregou um menino dizendo que era meu irmão. Fizeram festa, passeata, um desfile com carro de bombeiros e tudo, e após 23 dias tiraram esse garoto dos braços do meu pai que não era seu filho. Isso foi um verdadeiro espetáculo de circo onde minha família sempre foi os palhaços…
Nossa vida poderia ter sido outra, muito mais feliz e por negligência, tivemos outro destino. Vivemos uma vida marcada por tristeza, dor e sofrimento. Meu pai foi a pé até Aparecida. Uma jornada que durou 15 dias e 15 noites em forma de protesto e promessa. Para a população e o governo do estado é como se pronto está resolvido, fizemos o impossível e encontramos o Leandro, mas pra nós o tormento ainda não passou, pois a sensação de tortura e sermos enganados está ainda pior. Somos uma família simples e humilde e nunca tivemos muito recurso financeiro, e o que parece é que eles se aproveitaram disso!
Só penso que meu pai se estivesse vivo estaria com os mesmos sentimentos que nós, de IMPOTÊNCIA. Fico me perguntando como ele foi forte para aguentar tudo isso. Eu como mãe me coloco no lugar dele e sofro muito, e penso na Paulina, a mãe do Leandro, coitada ainda em choque e sem se conformar com esse desfecho.
E hoje com o nome do meu irmão fora da lista de crianças desaparecidas quero acima de tudo responsabilidade por parte das autoridades em nos dar respostas. Peço gentilmente ajuda de advogados ou entidades para que nos auxiliem no andamento do caso, por que a pergunta vai continuar: quem matou o Leandro Bossi? Por que matou Leandro Bossi? E por que só agora refizeram esse exame?