Ex-policiais comandavam organização criminosa que trazia contrabando do Paraguai
Polícia Federal sequestrou quase R$ 400 milhões em bens dos suspeitos, que movimentaram quantias milionárias em contas de laranjas nos últimos anos
A Polícia Federal (PF) prendeu em Londrina cinco ex-policiais civis, militares e penais suspeitos de integrar uma organização criminosa responsável por contrabandear diversos produtos usando o Paraguai como rota. Outro suspeito foi detido no Rio de Janeiro e um sétimo procurado está fora do Brasil. A PF batizou a ação com o nome de Operação Anemia, já que o objetivo é enfraquecer o poder, especialmente financeiro, da organização criminosa.
As prisões aconteceram na quinta-feira (6) e agora a PF e a Receita Federal, que colabora com as investigações, divulgam novas informações sobre a dimensão dos prejuízos causados ao cofres públicos. Em um primeiro momento, a polícia bloqueou quase R$ 400 milhões em bens dos investigados.
“O que a gente percebeu na investigação é uma movimentação financeira muito alta. Eles chegavam a adquirir 5 milhões de dólares semanalmente somente de uma marca de smartphones. Isso ficou bem claro na investigação, foram quatro quebras de sigilo bancário e fiscal, quebras de sigilo telemático, enfim, nós temos um material probatório muito robusto”, afirma Thiago Amorim, delegado da Polícia Federal.
Um dos presos em Londrina é um ex-policial civil que teve um crescimento patrimonial totalmente incompatível com a sua renda. A PF encontrou um verdadeiro arsenal de armas na casa desse suspeito. Apesar de serem legalizadas, as armas foram apreendidas devido ao alto valor de mercado.
“Foram sete mandados de prisão preventiva, apenas um não foi cumprido porque esse investigado está fora do país. Os outros seis foram cumpridos, cinco em Londrina e um no Rio de Janeiro. Foram 53 mandados de busca e apreensão. Além disso, teve sequestro de bens no valor de quase R$ 400 milhões, o que dá uma ideia do valor que eles movimentaram nos últimos dois, três anos”, complementa o delegado.
Investigação aponta que núcleo da organização criminosa estava em Londrina
Além das prisões se concentrarem na cidade, a maioria dos mandados de busca e apreensão também foi cumprida em Londrina. Isso porque, apesar de ter ramificações nos estados do Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo, a organização criminosa tem seu núcleo no Paraná.
As investigações começaram em 2020, depois que a Receita Federal detectou uma movimentação financeira fora do comum pelos suspeitos e por empresas indiretamente ligadas a eles. Duas contas em especial chamaram a atenção das autoridades.
“Nós tínhamos aqui em Londrina um mototaxista que movimentava R$ 60 milhões em sua conta corrente. E uma empresa em nome de uma das funcionárias do principal líder dessa organização que movimentou quase R$ 700 milhões. E também uma empresa criada por contadores aqui de Londrina que mandava recursos para o exterior da ordem de mais de R$ 200 milhões. O principal líder dessa organização praticamente não tinha nenhum patrimônio até 2018, 2019. E em 2023 ele declarou patrimônio de R$ 236 milhões, com 12 apartamentos de luxo em Balneário Camboriú. Então são essas movimentações atípicas, sem lastro econômico que chamam a atenção da Receita Federal”, afirma Reginaldo Cezar Cardoso, delegado da Receita Federal.
A polícia apreendeu ainda diversos carros de alto valor. Em meio aos modelos novos, alguns avaliados em até R$ 1,5 milhão, chama atenção um carro antigo, de 1978, que já ganhou prêmios em eventos de colecionadores.
Grupo trazia produtos do exterior utilizando o Paraguai como porta de entrada para o contrabando
De acordo com a PF, o grupo criminoso atuava desde 2014, introduzindo mercadorias irregularmente no país por meio da fronteira com o Paraguai, sobretudo eletrônicos, que eram distribuídos a diversos estados. Com a evolução da atividade criminosa, chamou a atenção das autoridades a intensa movimentação financeira, que era realizada por meio de laranjas e de empresas fictícias constituídas para dissimular o recebimento de recursos.
Posteriormente, os investigados passaram a adquirir produtos eletrônicos diretamente de fornecedores nos Estados Unidos, China e Hong Kong e contratar sua remessa para o Paraguai, de onde eram inseridos em território nacional.
O pagamento dos produtos era realizado por meio de uma complexa rede de empresas nacionais e no exterior que, mediante utilização de criptomoedas, efetivariam a evasão de divisas e consequentemente a lavagem do dinheiro.
Além disso, a PF afirma que a organização criminosa atuaria juntamente com uma rede de colaboradores de agentes públicos ativos e inativos, em especial agentes da segurança pública, para facilitar a entrada das mercadorias no Brasil. E como alguns mandados de prisão tiveram como alvo ex-policiais, as medidas foram cumpridas com apoio das corregedorias da Polícia Civil, da Polícia Militar e da Polícia Penal do estado do Paraná.
Quer receber notícias no seu celular? Entre no canal do Whats do RIC.COM.BR. Clique aqui