O Brasil ficou para trás mais uma vez
O Brasil é o País do coitadinho, do direito sem obrigação e da impunidade. E isso é cultural. Apesar de a análise não ser minha, mas de um dos maiores empresários do País, Carlos Alberto Sicupira, faço coro a esse conceito.
Assim como disse ele, no evento Expert XP 2014, e que ficou registrado em um vídeo completamente atemporal, que veicula no YouTube, o Brasil vai crescer na margem, mais ou menos. E nós somos culpados pela transformação que não vemos. Estamos esperando sempre uma figura que mude nosso País.
Personalizamos responsabilidades, mas, te pergunto: em quem você votou nas últimas eleições para deputado federal, estadual, senador? Exigimos o direito de votar, mas não queremos a obrigação de saber em quem estamos votando.
Mudar a cultura é radical, mas se isso não acontecer, o Brasil nunca será uma grande nação.
Em 1960, após o fim da guerra da Coreia, a Coreia do Sul foi completamente arrasada. O PIB per capita era a metade do brasileiro. Mas, em menos de uma década depois, o País se reergueu e igualou a marca do Brasil. Hoje, seu PIB é três vezes maior do que o nosso. Uma reportagem da BBC mostra que o país está entre as 15 maiores economias mundiais, com uma expectativa de vida que deve chegar aos 90 anos em 2030 e com uma taxa de desemprego que já é baixíssima, de 3,6%.
Mas o que faz da Coreia do Sul um grande exemplo de mudança?
Apesar da ajuda dos Estados Unidos, o País investiu maciçamente em educação e na produtividade do trabalhador. Adotou uma política educacional forte, que baseou o fortalecimento econômico e social e, em menos de 50 anos, o país reduziu o analfabetismo de 78% para 2%, com mais da metade da população tendo Ensino Superior. Além disso, houve um forte incentivo às exportações, com uma estratégia empresarial focada no incentivo à inovação tecnológica.
Então, porque nosso país ainda patina?
Porque faltam projetos focados no Brasil. Getúlio Vargas, que ficou 15 anos no poder, uma vez disse que, em todo esse tempo, não recebeu projetos focados no Brasil, mas sempre que recebeu empresários e lideranças, eram pedidos pessoais, sem nenhum espírito público.
Ao invés de evoluir, o País retroage nesse sentido. Entre 180 países analisados, o Brasil ocupou a 96ª colocação no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) no ano passado.
O Rio de Janeiro, um dos principais cartões de visita do país, está cada vez mais retratando o que, de fato, o Brasil representa. Um símbolo do que já foi, da impunidade, da corrupção, da milícia, da violência. O Estado aparece com 15 cidades na lista dos 50 municípios brasileiros onde as polícias Civil e Militar mais mataram em 2020, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
E, assim seguimos nos noticiários internacionais retratando o que tem de mais torto em um país. Caso recente, do início deste mês, foi o assassinato do congolês Moïse Kabagambe, na Barra da Tijuca, por motivos torpes.
Em um ano de eleições, mais uma vez o brasileiro acha que seremos salvos por alguém. Figuras carimbadas que não geram uma comoção nacional pelo bem do País, assim como aconteceu quando os Estados Unidos elegeu Barack Obama pela primeira vez, em 2008, com um plano político focado em “Yes, We can!” (“Sim, Nós podemos”). A paixão nacional não era pela política, mas pelo projeto político que visava o todo, o desenvolvimento do País.
A verdade é que tais figuras que despontam no cenário político brasileiro hoje não representam a capacidade de fazer com que as instituições funcionem. Temos um judiciário partidário, um legislativo com política “toma lá dá cá”, um Estado pesado, cheio de benefícios e privilégios e ninguém olha para o conjunto.
Em mais uma corrida presidencial, fala-se tanto em terceira via, mas não saímos das mesmas opções extremas. Mais uma vez, falta espírito público. Não vemos políticos falarem sobre projetos sólidos de transformação do País, mas planos individualistas focados em suas próprias imagens. E, assim, os temas que falam de um país do futuro mais uma vez ficam esquecidos.
E essa não é uma manifestação partidária. É um desabafo, porque, mais uma vez, o Brasil ficou para trás. Mais uma vez, não será o melhor, mas o menos ruim.