Por David Shepardson e Diane Bartz
WASHINGTON (Reuters) – Parlamentares dos Estados Unidos atacaram o Facebook nesta terça-feira, acusando o presidente-executivo, Mark Zuckerberg, de priorizar o lucro em detrimento da segurança dos usuários e exigiram investigação após uma delatora afirmar que a empresa prejudica crianças e alimenta a discórdia.
Durante audiência da subcomissão de Comércio do Senado dos EUA, a denunciante Frances Haugen pediu transparência sobre como o Facebook faz para manter usuários conectados no site, o que dá à empresa ampla oportunidade de exibir anúncios publicitários.
“Enquanto o Facebook estiver operando nas sombras, escondendo sua pesquisa do público, ele vai ficar sem ser responsabilizado”, disse Haugen.
“A liderança da companhia sabe como fazer o Facebook e o Instagram mais seguros, mas não tomam as medidas necessárias porque eles colocaram o lucro astronômico antes das pessoas. Uma ação do Congresso é necessária”, disse Haugen.
O senador republicano Dan Sullivan se disse preocupado com a forma como o Facebook e o Instagram afetam a saúde mental das crianças. “Acho que vamos olhar para trás em 20 anos e todos ficaremos nos perguntando o que diabos estávamos pensando”
Haugen revelou que foi Haugen quem forneceu os documentos usados em uma investigação do Wall Street Journal e em uma audiência do Senado sobre os danos causados pelo Instagram a adolescentes. Ela comparou os sites de mídia social a substâncias que causam dependência, como tabaco e opioides.
O presidente do painel do Senado, o senador democrata Richard Blumenthal, disse que o Facebook sabe que seus produtos são viciantes. “A tecnologia agora enfrenta aquele grande momento da verdade vivido pela indústria do tabaco”, disse ele.
Blumenthal cobrou que Zuckerberg testemunhe perante o comitê e que os órgãos de fiscalização dos mercados de capitais dos EUA, Securities and Exchange Commission (SEC) e a Federal Trade Commission (FTC) investiguem a empresa.
“Nossos filhos são as vítimas. Os adolescentes de hoje que se olham no espelho sentem dúvida e insegurança. Mark Zuckerberg deveria estar se olhando no espelho”, disse Blumenthal.
O senador disse após a audiência que gostaria de perguntar a Zuckerberg por que ele rejeitou as recomendações para tornar os produtos da empresa mais seguros para os usuários.
Apesar das críticas, a ação do Facebook subia nesta terça-feira, avançando 2,4% às 16h35 (horário de Brasília). No debate, um dia após o Facebook ficar fora do ar por várias horas, Haugen disse que “que por mais de 5 horas o Facebook não foi usado para ampliar diferenças, desestabilizar democracias e fazer mulheres e jovens se sentirem mal sobre seus corpos.”
Enquanto a empresa e Zuckerberg eram criticados, porta-vozes do Facebook respondiam no Twitter que Haugen não trabalhou diretamente em questões sobre as quais estava sendo perguntada.
Haugen, ex-gerente de produto da equipe de dados do Facebook, deixou a empresa com dezenas de milhares de documentos confidenciais.
Lena Pietsch, uma porta-voz do Facebook, rebateu Haugen. “Não concordamos com a caracterização que ela faz de muitas das questões sobre as quais ela testemunhou.”
Haugen disse ainda que o Facebook fez muito pouco para impedir que sua plataforma fosse usada por pessoas que planejam atos de violência.
A rede social foi usada por pessoas que planejaram assassinatos em massa em Mianmar e no ataque de 6 de janeiro contra o Capitólio, promovido por apoiadores de Donald Trump.
O senador Edward Markey, referindo-se a Zuckerberg, afirmou na audiência: “Seu tempo de invadir a privacidade e agir contra as crianças acabou. O Congresso vai agir.”
Parlamentares afirmaram que Zuckerberg preferiu ir passear de barco em vez de enfrentar suas responsabilidades. O executivo publicou neste final de semana um vídeo feito com os novos óculos inteligentes do Facebook que mostrou imagens de sua esposa em um barco.