O consenso é que o movimento deve ficar restrito a companhias no setor de tecnologia; logo, a tendência deverá ter efeito controlado sobre a fila de emissões de ações na B3
Embora o número de empresas brasileiras anunciando emissões de ações nos Estados Unidos tenha aumentado, essa busca pelo mercado americano não deve ser interpretada como uma tendência abrangente, segundo especialistas do mercado financeiro. O consenso é que o movimento deve ficar restrito a companhias no setor de tecnologia. Logo, a tendência deverá ter efeito controlado sobre a fila de emissões de ações na B3, a Bolsa paulista.
Essa noção fica transparente nas transações anunciadas até o momento. A Arco Educação, por exemplo, chegou na semana passada à Nasdaq, bolsa de tecnologia americana, em virtude do sistema SAS, de ensino bilíngue. Foi o segundo IPO de uma empresa brasileira nos Estados Unidos em 2018. Em janeiro, a PagSeguro havia aberto na Nyse, em Nova York. A próxima será a adquirente Stone, que deve chegar à Nasdaq logo após as eleições no Brasil
O responsável pelo banco de investimento do Morgan Stanley no Brasil, Alessandro Zema, destaca que as ofertas de tecnologia devem continuar a ocorrer nos EUA, pois as companhias estão de olho nos investidores dedicados ao setor. “Essas empresas se sentem mais confortáveis em abrir o capital lá fora”, diz. Apesar disso, Zema afirma que essa solução não é adequada a todos os setores e que a B3 seguirá como o principal destino dos IPOs nacionais.
A busca por melhores preços também é um fator. Sócio da área de mercado de capitais do escritório Mattos Filho, Jean Marcel Arakawa destaca que os investidores externos têm mais facilidade de avaliar o valor desse tipo de ativo – e costumam valorizá-los mais. Para o especialista em mercado de capitais do Stocche Forbes Advogados, Marcos Ribeiro, o atual contexto político-econômico brasileiro tem influenciado na busca de Bolsas lá fora, uma vez que o apetite para risco no País está baixo. Para ter os pés nos dois mundos, algumas companhias estão optando pela dupla listagem. Foi o caso da Azul, que abriu seu capital na B3 e listou suas ADRs (recibos de ações) na Nyse, em 2017.
A Arco, que desembarcou na Nasdaq semana passada e levantou US$ 194,5 milhões, desde o início mirou uma oferta nos Estados Unidos, com o objetivo de levar a empresa para dentro do ecossistema de tecnologia disponível por lá. “Atraímos investidores de qualidade para a empresa, que têm foco no longo prazo e são especializados em tecnologia”, disse o presidente da companhia, Ari de Sá Neto.
O diretor da área de mercado de capitais do Credit Suisse, Eduardo de la Peña, frisa que os casos de abertura de capital fora do Brasil continuam sendo exceção. “As empresas de tecnologia acabam sendo mais comparáveis lá fora, mas essa não é uma solução certa para todos”, afirma o executivo.
Entrave
Arakawa, do Mattos Filho, lembra que uma questão regulatória acaba impedindo a listagem de algumas empresas na Bolsa paulista Isso porque parte dessas companhias recebe aportes de fundos de private equity (que compram participações em empresas) ou passam por rodada de captações entre investidores, com a constituição de holding fora do Brasil.
Por causa disso, quando decidem abrir o capital, essas empresas podem realizar uma listagem no Brasil com a emissão de BDRs (recibos de ações brasileiras), em virtude de uma restrição vigente mesmo para empresas que tenham a maior parte de seus ativos no Brasil. O presidente da B3, Gilson Finkelsztain, afirma que a Bolsa brasileira está atenta para este tema e que vem trabalhando em diversas frentes para trazer volumes que estão sendo perdidos para os EUA.
Além de buscar mudanças nas regras para os BDRs, a B3 também está trabalhando no segmento que dá acesso ao mercado de capitais a pequenos e médios negócios. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.