Júri popular de Manvailer, acusado de matar Tatiane Spitzner, começa nesta terça (4)

Publicado em 3 maio 2021, às 14h35.

Após três adiamentos, deve ser realizado nesta terça-feira (4), a partir das 9h, o júri popular do biólogo Luis Felipe Manvailer. Ele é réu no processo que investiga a morte da esposa, a advogada Tatiane Spitzner, e está sendo acusado de feminicídio e fraude processual.

A defesa de Manvailer alega que Tatiane cometeu suicídio e que o réu é inocente. No entanto, no laudo oficial do Instituto Médico Legal (IML) de Guarapuava, cidade onde o crime foi registrado na madrugada de 22 de julho de 2018, a causa da morte aponta que Tatiane faleceu em consequência de asfixia mecânica por esganadura. A vítima também sofreu uma queda do quarto andar do prédio onde morava.

A relação do casal

A advogada Tatiane Spitzner, natural de Guarapuava, conheceu o professor de biologia Luis Felipe Manvailer em 2013, em Curitiba, em um jogo de rugby. Poucos meses após o início do relacionamento, os dois se casaram e se mudaram para a Alemanha. Em 2016, o casal retornou para Guarapuava.

O pai de Tatiane, Jorge Spitzner, relatou, durante as audiências do caso, que o comportamento de Luis Felipe começou a mudar no início de 2018 e que havia presenciado atitudes agressivas e humilhações de Manvailer contra Tatiane. A irmã de Tatiane, Luana Spitzner também chegou à relatar para a imprensa que a advogada vinha falando sobre pedir o divórcio.

O dia do crime

Na noite de 21 de julho de 2018, Tatiane e o marido haviam ido até um bar, no Centro de Guarapuava, para comemorar o aniversário de 32 anos de Manvailer. Na época, a advogada estava com 29 anos. Testemunhas afirmaram que o casal teria discutido ainda no estabelecimento, depois que Tatiane pediu para ver o celular de Luis Felipe.

Mais tarde, já na madrugada de 22 de julho de 2018, câmeras de segurança registraram o casal chegando ao prédio onde morava de carro. Ainda na rua, dentro do veículo, é possível perceber o momento em que Manvailer dá dois tapas no rosto de Tatiane e a empurra.

Já na garagem, as cenas flagradas em vídeo são ainda mais impressionantes e chocaram o país. Manvailer aparece puxando Tatiane de dentro do carro e a prensa contra o veículo. O casal circula pelo estacionamento em um visível clima de tensão, até que as imagens mostram Tatiane entrando correndo no elevador e sendo seguida pelo marido.

No elevador, a advogada é agredida com puxões e derrubada no chão. Ela ainda tenta sair, mas Manvailer a puxa novamente e a arrasta para fora do elevador ao chegar no quarto andar, onde ficava o apartamento do casal. Vizinhos relataram terem ouvido gritos de socorro vindos do apartamento. Câmeras registraram o momento em que Tatiane sofre uma queda da sacada do prédio e seu corpo aparece na calçada.

Na sequência, Manvailer desce até a calçada e encontra um vizinho, que ouviu o barulho da queda e foi até o local. O vizinho afirma que disse para Manvailer não mexer no corpo e decidiu ligar para o Corpo de Bombeiros, para pedir socorro. Luis Felipe teria argumentado que a esposa “já estava morta”. Depois, Manvailer é visto nas imagens arrastando o corpo de Tatiane pelo hall e subindo de elevador. O corpo de Tatiane foi encontrado mais tarde, pela polícia, na porta de entrada da sala.

Manvailer troca de roupa, tenta limpar o sangue da advogada do prédio, pega o carro de Tatiane e foge. O réu foi preso no mesmo dia, em São Miguel do Iguaçu, a cerca de 340 quilômetros de Guarapuava e a menos de 50 quilômetros do Paraguai, após bater o carro. Ele foi detido enquanto caminhava pela rodovia.

A Polícia Civil precisou arrombar a porta do apartamento para localizar o corpo de Tatiane.

Reveja as imagens:

Laudo do IML

Após a morte da advogada, a Polícia Civil passou a investigar o crime. O laudo oficial do Instituto Médico Legal (IML) de Guarapuava apontou que a causa da morte da advogada foi asfixia mecânica por esganadura.

Versões

Em entrevista para o repórter Roberto Cabrini, da Record TV, em dezembro de 2020, Manvailer falou à imprensa pela primeira vez sobre o que ocorreu naquela madrugada. Ele defende que, durante a discussão com a esposa, ele teria se distraído e a viu correndo para a sacada e se jogando do prédio. A defesa do réu, composta pelo advogado Claudio Dalledone Júnior, alega que Tatiane se suicidou.

No entanto, para o advogado da família da vítima e assistente de acusação da promotoria, Gustavo Scandelari, o laudo do Instituto Médico Legal (IML) comprova que Tatiane foi assassinada e estava morta antes mesmo de ser jogada do prédio. Em 8 de agosto de 2018, a Justiça acatou a denúncia do Ministério Público do Paraná contra Luis Felipe Manvailer, acusado de feminicídio, pelo assassinato de Tatiane, e por fraude processual, por ter limpado os vestígios de sangue antes de fugir.

Repercussão

Com impacto nacional e internacional após a divulgação das imagens chocantes de agressão, o caso mobilizou movimentos que lutam pelo fim da violência contra a mulher. Assim, em 2019, foi sancionada a Lei Estadual que marca o dia 22 de julho como o Dia de Combate ao Feminicídio.

Adiamentos

O júri popular já foi adiado três vezes, a primeira delas por questões técnicas, a segunda por um dos advogados de defesa do réu estar infectado com a covid-19 e a terceira, no dia 10 de fevereiro, quando os advogados abandonaram o tribunal após serem impedidos de usar algumas imagens. Depois disso, a nova data para o julgamento foi definida como 4 de maio.

Apesar de estarem propensos à receber uma multa por terem abandonado o local, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná reconheceu que o material probatório que a defesa pretendia utilizar no julgamento efetivamente estava juntado nos autos e deveria ter tido a sua utilização permitida, considerando justificada a conduta dos defensores. A multa então não foi aplicada.

Cobertura em tempo real

A equipe do portal RIC Mais vai acompanhar o júri popular e fará a cobertura em tempo real do julgamento. Acompanhe todos os detalhes de um dos júris populares mais aguardados do Brasil a partir das 9h da manhã desta terça-feira (4).