Pedágio: a luta diária de quem depende da estrada

Publicado em 30 set 2021, às 12h33. Atualizado às 12h34.

A cabine de um caminhão é a casa do caminhoneiro. É dentro dela que o profissional do volante passa várias horas do seu dia. Ao terminar a jornada de trabalho é nela que ele deita para recompor suas energias para outra viagem. É também dentro dela que ele sonha. Ali ele ganha o sustento, mas também vê grande parte do esforço saindo pela janela, em cada parada em uma das 27 praças de pedágios espalhadas pelas rodovias do Paraná.

Um valor que, somado, resulta uma conta que não fecha, nem no próprio bolso, nem em melhorias nas estradas. Para se ter uma ideia, só no trecho administrado pela Ecocataratas, na região Oeste do Paraná, onde estão localizadas cinco praças, apenas 20% do montante arrecadado foram transformados em obras.

“Nós seguimos rigorosamente as cláusulas, e estamos com todas as obrigações contratuais sendo cumpridas.”

Silvio Caldas – diretor Ecocataratas

Mesmo assim, quem usa as rodovias pedagiadas acredita que os valores aplicados não estão de acordo com o serviço oferecido. A opinião é unânime para aqueles que fizeram das estradas suas casas.

Thales Forlin atua na área desde 2012. Além de dirigir seu próprio caminhão, ele é responsável pela gestão de outros três veículos. Para ele, os valores aplicados nas praças do Paraná são abusivos.

“Penso que poderia, sim, ter o pedágio, mas com preço justo. Muitas vezes o valor que é pago em pedágio ultrapassa o lucro que sobra de um frete. Hoje, por exemplo, para ir para Paranaguá e voltar temos que desembolsar aproximadamente R$ 1.100 reais em pedágios, ou seja, em torno de 20% do frete” 

Thales Forlin – caminhoneiro

Tarifas altas e frete desvalorizado

O frete é um dos empecilhos para quem está na estrada. E isso se agrava para os caminhoneiros autônomos. Atualmente, segundo a ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) 215.786 profissionais são cadastrados como autônomas no Paraná. O reflexo das baixas taxas de frete, com despesas de veículo, combustível e alimentação, somados à tarifa praticada em cada cancela é resultado da frase “pagar para trabalhar”, como relata o caminhoneiro, Vilson Luis Sost.

“Eu viajo mais para Minas Gerais e Goiás, então eu saio de Cascavel pela BR-369. Até Campo Mourão é pista simples, ainda passo dois pedágios. De Cascavel a Maringá R$ 14.90 por eixo. No caso da carreta, dá praticamente R$ 90. Somados três pedágios, R$ 270 que eles estão cobrando em 240km. R$ 270 é mais de um real o quilômetro rodado para usar a rodovia. Eu acho um absurdo de caro. O correto ali, seria uns R$ 30 por pedágio”

Vilson Luis Sost – Motorista carreteiro

Os valores pagos no pedágio deveriam ser usados para novos investimentos na infraestrutura e segurança. Mas na prática quem está na estrada se depara com outra realidade.

“A gente paga caro pra usar a rodovia e não tem, o que seria a maior dificuldade do motorista ter um lugar, um ambiente para  fazer o seu descanso, ter um pátio com segurança. Não tem assistência praticamente nenhuma, apenas um guincho no caso de quebra.”

Vilson Luis Sost – Motorista carreteiro
Os valores pagos no pedágio deveriam ser usados para novos investimentos na infraestrutura e segurança

“Outro ponto que vivenciamos todos os dias é a falta de um local apropriado para descanso, já que muitas vezes os postos estão cheios. Não tem onde parar para dormir à noite. Muitas vezes, para dormir em segurança, temos que pagar, ou correr o risco de dormir em locais inseguros e sermos assaltados. Acredito que deveriam oferecer uma estrutura melhor e mais segura aos usuários.” 

Thales Forlin – caminhoneiro

Os reflexos da nova praça de Cascavel a Toledo

Mas, se a situação já é complicada diante de todas as praças que são “visitadas” pelos caminhoneiros no Paraná, outro assunto está tirando a paz de quem trabalha na região Oeste. É que está prevista a instalação de uma nova praça de pedágio na BR-467, que vai de Cascavel e Toledo. 

“Nós estamos falando do aumento de 27 praças para 42 novas praças. Então aquelas empresas que rodam não só no Oeste mas no Paraná inteiro terão muita dificuldade e competitividade. No Oeste, o prejuízo será para novos investidores”.

Alci Rota – Presidente conselho de desenvolvimento

A nova concessão prevê uma praça nos 42 quilômetros que dividem as duas capitais do agronegócio. A rodovia é duplicada desde 2006 e com um valor previsto acima de  R$ 7, com custo mínimo de R$ 10 por eixo. Um valor desenfreado para quem passa de carro, e ainda mais impactante para aqueles que precisam escoar mercadorias.

“Acho desnecessário a criação de uma nova praça nesse trajeto, pois é uma região que já oferece uma boa estrutura, e que tem grande fluxo de veículos maiores, bem como muitas pessoas se deslocam entre os municípios para trabalhar. A criação de mais uma praça nessa região impactará financeiramente aos usuários do trecho.”

Thales Forlin – caminhoneiro
“A criação de mais uma praça nessa região impactará financeiramente aos usuários do trecho” – Thales Forlin, caminhoneiro

Donos de empresas, sociedade civil e entidades se mobilizam como contrárias à implantação da praça. 

“Toledo representa no Estado Paranaense o maior PIB agropecuário. Aqui do Oeste do Paraná é de onde sai a maioria das cargas com destino ao Porto de Paranaguá. Esse pedágio vai dar um reflexo no produto final na prateleira do consumidor.”

Celso Rosa – empresário

Além dos transportadores, quem irá sentir no bolso é o consumidor final, na prateleira do supermercado. São notas investidas na estrada que resultam no aumento de centavos nas gondolas. 

“O pedágio é um modelo para facilitar a logística. Mas ele não pode ser tão violento em arrecadação que tire a competitividade da nossa economia”.

Dilvo Grolli – presidente Coopavel

Reflexo para aqueles que tiram da estrada seu sustento. Para quem é caminhoneiro autônomo, uma gota que nunca seca.

“O valor do combustível, a hospedagem, a alimentação, a manutenção do caminhão. Tudo tem um desgaste. Então o frete teria que sobrar em torno de 40% para o caminhoneiro autônomo e mais os 10% que seria um uma comissão, que não existe. No fim da conta, na soma de tudo, não se consegue nem fazer a manutenção correta no veículo, aí fica cada vez mais difícil.”

Vilson Luis Sost – Motorista carreteiro

Mesmo diante de todas as adversidades, os profissionais afirmam que não são contra o pedágio, mas a favor de um valor justo para os pedágios do Oeste do Paraná.

“Quanto ao pedágio, não sou contra, mas de que seja uma cobrança justa, como no nosso estado vizinho Santa Catarina, onde o valor não é demasiado que nem no Paraná, e ainda oferecem um serviço de qualidade.”

Thales Forlin – caminhoneiro