Polícia prende pescador que viu jornalista e indigenista desaparecidos na Amazônia
Por Gabriel Stargardter
RIO DE JANEIRO (Reuters) – Policiais que investigam o desaparecimento de um jornalista britânico e um indigenista brasileiro na floresta amazônica prenderam um homem por porte de armas, mas não têm provas que o vinculem ao desaparecimento, disseram a polícia e o advogado do detido à Reuters.
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Testemunhas disseram que viram pela última vez o repórter Dom Phillips, um freelancer que escreve para o Guardian, Washington Post e outras publicações, no domingo, junto com o indigenista Bruno Pereira, que já teve cargo de coordenador na Fundação Nacional do Índio (Funai).
Eles estavam em uma viagem para reportagem no Vale do Javari, uma área remota de selva que abriga o maior número de indígenas isolados do mundo, além de quadrilhas de tráfico de cocaína e caçadores e pescadores ilegais.
Nesta quarta-feira, a Justiça Federal determinou que o governo intensifique imediatamente seus esforços de busca com helicópteros, barcos e equipes de resgate em uma vasta região de reserva indígena de tamanho maior que o território da Áustria.
Como ex-autoridade da Funai na região, Pereira entrava em confrontos regularmente com pescadores que saqueavam reservas de pesca protegidas, e a polícia disse que os investigadores estavam tratando essas tensões como uma questão-chave.
A Polícia Civil da cidade de Atalaia do Norte interrogou vários pescadores que estavam entre as últimas testemunhas a terem visto os dois homens vivos.
Um dos pescadores, Amarildo da Costa, conhecido localmente como “Pelado”, chegou a Atalaia do Norte para interrogatório na terça-feira algemado, pois uma cápsula de espingarda vazia e chumbinhos foram encontrados em sua casa quando a polícia foi procurá-lo, segundo um comunicado da polícia e um investigador que trabalha no caso.
Como resultado, ele foi preso por porte ilegal de munição restrita e aguarda uma audiência para a acusação de porte de armas, de acordo com o investigador, um comunicado da polícia e o advogado de Costa, Ronaldo Caldas.
O investigador, que pediu anonimato para discutir um caso em andamento, disse que Costa morava perto de onde os dois homens desapareceram. O advogado de Costa disse que seu cliente não era suspeito no caso.
Não se sabe se um crime foi cometido, disse à Reuters Guilherme Torres, chefe do Departamento Interior da Polícia Civil do Estado do Amazonas. Mas, segundo ele, Pereira recebeu recentemente uma carta ameaçadora de um pescador.
O desaparecimento de Phillips e Pereira, que tinham anos de experiência trabalhando na Amazônia, despertou preocupação global de grupos de direitos humanos, ambientalistas, políticos e defensores da liberdade de imprensa.
O tricampeão mundial Pelé juntou-se nesta quarta-feira aos que expressaram preocupação com o desaparecimento.
“A luta pela preservação da floresta amazônica e pela proteção dos povos indígenas é de todos nós”, postou no Instagram. “Me junto às muitas vozes que fazem o apelo para intensificarem as buscas e que possam encontrá-los assim que possível.”
As famílias dos desaparecidos pediram às autoridades que intensifiquem as operações de busca.