Triplo homicídio em Umuarama tem "sinais de psicopatia", explica psicóloga; entenda
O triplo homicídio registrado em Umuarama no último domingo (8) chamou a atenção do Estado do Paraná nesta semana. Durante as investigações, o delegado-chefe da 7ª Subdivisão Policial (SDP) de Umuarama, Osnildo Carneiro Lemes, afirmou ficar evidente que o marido de uma das vítimas e principal suspeito do crime, Jean Michel de Souza, possui “traços de psicopatia”, levantando uma questão importante: quem comete este tipo de crime é de fato psicopata?
Mestre em Psicologia e professora universitária, Bruna Greinert afirma que diagnosticar com precisão a psicopatia demanda a realização de uma bateria de exames, feitos por um profissional habilitado. No entanto, o crime em si apresenta traços de frieza compatíveis com a psicopatia. A reportagem do portal RIC Mais buscou compreender melhor a doença e qual a relação dela com o crime ocorrido em Umuarama. Confira:
RIC MAIS – O que é a psicopatia?
BRUNA GREINERT – A psicopatia nada mais é do que um tipo de personalidade que uma pessoa se apresenta para o mundo. Este tipo de personalidade é marcado pela frieza, manipulação, falta de empatia e a privação de sentimentos positivos para com as outras pessoas. O psicopata se relaciona com o outro buscando status, poder ou diversão. Não há envolvimento afetivo. Ele vê o outro como um objeto, um meio para conseguir o seu objetivo e se satisfazer. Além disso, um psicopata geralmente tem uma certa soberba e acredita que nunca será pego.
RM – Quais são as origens da psicopatia?
BG – Estudos apontam que a psicopatia ocorre com a confluência de dois fatores. O primeiro e mais predominante é o fator genético. O cérebro de um psicopata tem características diferentes. Este fator é somado a uma condição ambiental, ou seja, a maneira com que essa pessoa se relaciona com as outras. Muitos psicopatas tiveram relações difíceis quando crianças, com privação de afeto por exemplo.
RM – Então é possível identificar um psicopata já na infância?
BG – Por lei, não é possível diagnosticar um psicopata antes dos 18 anos. No entanto, na infância já é possível ver alguns comportamentos compatíveis com a psicopatia, como frieza, manipulação e falta de empatia.
RM – E como tratar a psicopatia?
BG – O psicopata precisa trabalhar regras, limites e ordem. Isto pode amenizar os efeitos sociais. No entanto, os estudos mostram que, até o presente momento, a psicopatia ainda não tem cura.
RM – Todos os psicopatas são capazes de matar?
BG – É um engano dizer que todo psicopata pode matar. Existem três níveis de psicopatia: leve, moderado e alto. O tipo leve é aquele que engana, trapaceia. É o clássico estelionatário, que ludibria as pessoas para ganhar alguma vantagem, mas pode ser também aquele colega de trabalho que ‘puxa o tapete’ dos outros. Boa parte dos psicopatas não estão presos e fazem parte deste grupo. O tipo moderado é um pouco mais grave. Ele pode não ter a coragem de matar, mas não hesita em mandar alguém cometer um crime como este. Já o psicopata de nível mais alto é o que comete um homicídio ele próprio. Mas é possível que o psicopata leve possa evoluir o quadro e chegar a uma psicopatia alta. Também é errado dizer que todo crime é cometido por um psicopata. Qualquer pessoa pode, em um momento extremo, cometer um crime. A diferença é que pessoas sem traços de psicopatia se arrependem, diferentemente de pessoas com esta condição psicológica. Esta é a diferença, por exemplo, de um crime cometido por um psicopata e um crime passional: o arrependimento.
RM – É possível dizer que o triplo homicídio de Umuarama foi cometido por um psicopata?
BG – O diagnóstico da psicopatia só pode ser feito através da realização de uma bateria de exames, feitos por profissionais como psicólogos ou psiquiatras. Portanto, não é possível apontar que a pessoa suspeita do crime em Umuarama é ou não psicopata. No entanto, ao analisarmos o crime em si, é possível dizer que há sinais de psicopatia nos atos.