Vrajamany Rocha: do ataque do tigre em Cascavel (PR) ao alto dos pódios

Publicado em 30 jul 2021, às 10h26. Atualizado às 10h44.

Determinação, garra, força e ambição. Essas palavras descrevem bem quem é Vrajamany Rocha, o nadador, paratleta paulista de 18 anos, que sonha em competir nos jogos paralímpicos. Mas antes de alcançar a competição internacional, o foco é bater o recorde do Brasileiro 200m Medley, competição que ficou em segundo lugar, em sua última etapa, no ano de 2019.

“ Os meus treinos estão melhores do que nunca, atualmente estou treinando sozinho. Eu estou na minha melhor forma possível, no começo do ano estava com 60 quilos e agora estou com 68 quilos de massa seca.”

Vrajamany Rocha – paratleta

A competição está prevista para novembro, mas sua realização depende da situação em que o país vai estar diante da pandemia da Covid-19.

Falando em pandemia, segundo o atleta, foi ela um dos motivos que dificultou os treinos, e consequentemente a seleção para os jogos de Tóquio. Apenas quatro segundos separaram o jovem da vaga, mas isso não foi motivo de desânimo, pelo contrário é apenas mais um  impulso para a dedicação aos treinos.

“Durante a pandemia, eu fiquei sete meses sem treinar, mas eu iniciei uma sequência de treinamentos de explosão, corrida, e muito exercício funcional dentro de casa.  Eu aprendi a fazer barra, flexão e agachamento com uma perna só. Exercícios que me auxiliaram muito quando eu voltei para dentro da água.”

Vrajamany Rocha – paratleta

Atualmente, Vrajamany divide sua rotina entre estudos, academia, alongamento e água, e é dentro dela que ele passa 36 horas por semana realizando treinos. Segundo o atleta, o tempo na piscina ainda é pouco, mas o ritmo de treino deve aumentar nas próximas semanas.

“Eu pretendo aumentar minha carga de treino. Atualmente eu faço em média 25 quilômetros por semana, um percentual considerado baixo”

Vrajamany Rocha – paratleta
(Foto: arquivo pessoal)

Apaixonado pela água, Vrajamany não dispensa uma cachoeira. Dentre as atividades para desestressar, estão as trilhas, acampamentos e também o vôlei, um segundo esporte que faz parte de seu cotidiano. Amante da natureza, o competidor, também mudou a sua alimentação, há quatro anos decidiu parar de ingerir carne, resultado que segundo ele também foi refletido na piscina.

“ Quando mudei minha alimentação, vi a prova científica dentro da água, meu rendimento na piscina foi muito melhor”.

Vrajamany Rocha – paratleta

Adaptação

Vrajamany era destro, mas devido ao ataque de um tigre, registrado no Zoológico Municipal de Cascavel, no Oeste do Estado, em 2014, sua rotina mudou completamente. Para o jovem atleta, que está no começo da carreira, o fato de ter perdido um dos braços não exigiu muitas adaptações, mas sim de persistência.

Com um tom de brincadeira, ele lembra quando foi cortar legumes pela primeira vez com a mão esquerda. “Simplesmente os vegetais saíram correndo”. Atualmente, ele relata que esse tipo de atividade ele realiza tranquilamente, sem o auxílio de ninguém. 

Vrajamany reforça que aprendeu a ter coordenação que não tinha na mão esquerda, e que tudo o que ele fazia com as duas mãos, hoje faz com uma só. Diante da situação que viveu o jovem ressignifica a palavra “acidente”

“Eu acho que aconteceu uma coisa que tinha que acontecer. Que fez parte da minha história que mudou totalmente minha vida, me apresentou o esporte. Foi uma experiência negativa que só me trouxe coisas boas. Me orgulho bastante do que sou hoje.”

Vrajamany Rocha – paratleta

E se for para falar em orgulho, Veja a lista de competições que ele tem em seu currículo:

  • Open internacional de 2019 

2° lugar- 200m medley 

  • Brasileiro de 2019

2° lugar -100m borboleta 

2° lugar -200m medley 

2° lugar -revezamento 4×100 medley 

  • Brasileiro sub 18 de 2019 – Recorde nas 5 provas 

50 livre 

100 livre 

100 peito 

100 borboleta 

200 medley 

  • Brasileiro sub 18 2018 – Recorde nas 5 provas 

50 livre 

100 livre 

100 peito 

100 borboleta 

200 medley

(Foto: arquivo pessoal)

Ataque X relação com o pai

Vrajamany sempre gostou de água, quando pequeno ele gostava de ir na piscina. Sempre ao lado do pai ele deu as primeiras braçadas. O esporte faz parte da sua vida desde os dois anos de idade, e “depois de perder” o membro direito, ele resolveu investir ainda mais na natação..

Quando foi atacado pelo tigre, Vrajamany estava com seu pai, Marcos do Carmo da Rocha, no Zoológico Municipal, na época ele tinha 11 anos. O fato aconteceu no dia 30 de julho de 2014.

A família estava a passeio na cidade, e conhecia os recintos dos animais quando o inesperado aconteceu. O caso repercutiu mundialmente, após a divulgação de vídeos gravados por pessoas que estavam no local. O ataque do tigre, não atingiu, por poucos centímetros, as artérias principais do corpo da criança.

A família precisou ficar uma semana na cidade, até que a saúde do garoto fosse estabilizada para que assim, pudessem voltar para a capital de São Paulo, cidade onde residem.

Segundo Vrajamany, a história com o tigre, até hoje traz pontos negativos para sua carreira e também para a vida pessoal. O jovem admite que quem mais sofreu com a história foi seu pai.

“Quem sofreu mais na história foi meu pai. A culpa de ele me ver sem o braço doeu muito mais nele do que em mim, Ele carrega a culpa de eu ter perdido o braço na responsabilidade dele.”

Vrajamany Rocha – paratleta

Legado

Admirado por colegas de treino, amigos e também por toda uma sociedade que acompanhou sua trajetória de vida, Vrajamany deixa um recado de esperança para aqueles que pensam em desistir e a palavra de ordem é a mesma citada no início do texto: ambição

“ Eu ainda estou no início da minha carreira esportiva. Foi um momento difícil que mudou a minha vida, mas eu nunca deixei de acreditar que eu seria capaz um dia de ser campeão mundial. Independente da área que você atue, se você tiver fé no seu potencial todo dia, tenho certeza que coisas boas vão vir.”

Vrajamany Rocha – paratleta