Uma adolescente ficou cega após levar um tiro de bala de borracha durante uma operação da PM em um baile funk, em São Paulo, no último domingo (10). Gabriela Talhaferro, de 16 anos, perdeu a visão do olho esquerdo.

A mãe da jovem, Kelly Talhaferro, denunciou o caso e diz que vai registrar um Boletim de Ocorrência nesta quarta-feira (13).

Adolescente fica cega em ação da PM

De acordo com a mãe, sua filha saiu de Itaquaquecetuba acompanhada de quinze amigos em direção ao baile funk. O grupo embarcou na Linha 12/Safira e desceu na estação Guaianases e se direcionou ao baile.

Por volta das 2 horas, viaturas do 28º Batalhão chegaram ao local para dispersar a concentração do evento, fazendo o uso de disparos de arma de fogo para o alto e tiros de borracha.

Com a ação, as pessoas que estavam no baile se afastaram. Além da adolescente que ficou cega, outras pessoas ficaram com ferimentos na região do pescoço e na perna. Outras foram pisoteadas durante a correria.

Como a estação Guaianases já estava fechada e Gabriela Talhaferro não tinha dinheiro para chamar um motorista de aplicativo, ela ficou com um amigo próximo a uma adega, que fica afastada da área onde acontecia o baile funk.

Policiais negaram socorro

Momentos depois, uma viatura da PM teria se aproximado do local e disparado contra a adolescente, que foi atingida no olho esquerdo por uma bala de borracha. Segundo Gabriela Talhaferro, quatros oficiais estavam dentro do carro.

O amigo da menina pediu socorro aos policiais, mas eles ameaçaram agredi-los caso não saíssem de lá, de acordo com a mãe da jovem. O dono da adega prestou apoio, chamou um carro de aplicativo, que levou Gabriela Talhaferro ao pronto-socorro Itaquera.

Em seguida, a paciente precisou que ser transferida por uma ambulância ao Hospital Ermelino Matarazzo, pois o pronto-socorro não tinha aparato para atendê-la. Neste momento, Kelly foi avisada sobre a entrada da filha no hospital.

Após a avaliação, a mãe foi informada que Gabriela foi diagnosticada com dilaceração da córnea esquerda. Por isso, foi transferida para um Centro Especializado em Oftalmologia, o Hospital São Paulo.

Médicos diagnosticam perda completa da visão

No mesmo dia do ocorrido, por volta das 18 horas, a adolescente passou por uma cirurgia. Porém, na última segunda-feira (11), as equipes médicas informaram que a adolescente perdeu completamente a visão do olho esquerdo, sem possibilidade de transplante. Ela ainda corre o risco de ter que fazer a retirada total do globo ocular.

Segundo Kelly, a filha precisa fazer curativos a cada meia hora e vai retornar ao Hospital São Paulo na próxima quinta-feira (14).

“A Gabriela agora tem pânico. Ela viu policiais militares no hospital, ficou pálida e grudou em mim, morrendo de medo. Ao ver a polícia a gente tem que ficar mais tranquilo, né? E não com medo”, desabafou Kelly.

Corregedoria vai apurar o caso

O ativista de direitos humanos Darlan Mendes, que presta assistência à família, apresentou o caso à Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo. O ouvidor Benedito Mariano encaminhará à Corregedoria da Polícia Militar, que vai investigar a atuação dos policiais militares no baile funk.

A Polícia Militar afirmou em nota que instaurou procedimento para investigar as circunstâcia do caso. Leia a nota da PM na íntegra!

“A Polícia Militar esclarece que, em 9 de novembro, policiais do 28º BPM/M realizavam a operação “Noite Tranquila”, com o objetivo coibir ocorrências de perturbação de sossego, quando foi necessário o uso de técnicas de controle de distúrbios para conter a multidão. Até o término da ocorrência não havia relato de pessoas feridas, mas, ao tomar conhecimento do caso citado pela reportagem, o Comando do 28º Batalhão Metropolitano instaurou procedimento apuratório para investigar as circunstâncias. Até o momento, a Polícia Civil não localizou registro de boletim de ocorrência sobre o fato.”

*Esse conteúdo foi elaborado a partir de matéria publicada originalmente no R7