Para responder a uma das maiores demandas surgidas na pandemia de coronavírus, engenheiros do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa – JPL, em inglês – desenvolveram um respirador mecânico de alta pressão específico para tratamento de pacientes da covid-19. A ideia foi criar um projeto mais simples de ser produzido do que um respirador mecânico tradicional, que pudesse ser reproduzido em todo o mundo.
Depois da aprovação do protótipo feito pelo JPL, que fica na Califórnia, na agência americana reguladora de drogas e alimentos (FDA), a Nasa passou a conceder patentes e licenças a empresas americanas e estrangeiras com capacidade de produzir o equipamento, que pode agora começar a ser fabricado no Brasil.
Quando soube do projeto desenvolvido pela Nasa, Rubens Calbucoy, diretor comercial da Russer, empresa especializada em urologia que fica em Indaiatuba, interior de São Paulo, achou que seria a oportunidade perfeita. Desde o início da pandemia, ele, filho do fundador da empresa, queria ajudar na produção de equipamentos que pudessem tratar infectados. “Tínhamos a capacidade para fabricar um respirador, mas não tínhamos o know-how.”
A Russer foi uma das três instituições brasileiras autorizadas a desenvolver o equipamento no País. No total, 331 companhias de 42 países se inscreveram no processo do JPL. Inicialmente, 30 instituições brasileiras se mostraram interessadas. Das cerca de 100 propostas formalmente enviadas, a Nasa concedeu licenças a oito empresas americanas e 24 estrangeiras.
O respirador, criado em 37 dias pelos engenheiros do laboratório da Nasa, recebeu o nome Vital, abreviação em inglês para Tecnologia de Intervenção do Respirador Acessível Localmente. A máquina é usada como os respiradores comuns, em que o paciente precisa ser sedado para que o tubo de oxigênio seja inserido e o ajude a respirar. A diferença é que o Vital é específico para tratamento de covid-19. Isto faz com que o aparelho não tenha tantas funcionalidades, mas seja construído de forma mais simples e rápida.
O equipamento usa, segundo o laboratório da Nasa, 1/7 do número de partes de um respirador tradicional, sendo todos componentes já disponíveis nas cadeias de suprimentos. A ideia é liberar os respiradores tradicionais para os piores casos da covid-19.
Há uma preocupação dos engenheiros também para que as peças usadas não sejam as mesmas de um respirador comum – o que evita escassez na produção dos respiradores tradicionais. A duração do respirador é de cerca de três a quatro meses, enquanto os respiradores tradicionais podem durar anos.
“Na hora que soubemos que fomos selecionados para produzir no Brasil, foi muito emocionante”, afirma Calbucoy, da Russer. O brasileiro Luis Phillipe Tosi foi um dos responsáveis no laboratório da Nasa pelas avaliações dos projetos de empresas do Brasil. “O propósito deste projeto e a mensagem que queremos passar é que pretendemos dar acesso a esse respirador ao mundo inteiro”, afirma Tosi. “Consideramos como diferencial na seleção a experiência técnica de desenvolvimento de produtos médicos e a experiência prévia com a Anvisa.”
As empresas selecionadas receberam o pacote de desenhos e projetos para desenvolver o produto, software e a documentação e aprovação do projeto na FDA. A parceria não acaba aí. O JPL quer saber o retorno das empresas, as dificuldades e sugestões de aprimoramento.
Apoio
Para atingir a meta sonhada de produção de 1 mil respiradores por mês, Calbucoy ainda precisa de parceiros. “Sozinhos não vamos conseguir”, afirma. Com cem funcionários, a Russer quer fazer parcerias com montadoras de carros e autopeças para conseguir produção em grande escala. As empresas contatadas se mostraram entusiasmadas, mas disseram, segundo ele, que preferem aguardar até que todos os componentes para produção estejam disponíveis.
“Algumas empresas ficaram um pouco assustadas depois que entraram no mundo dos respiradores, foi mais complicado do que esperavam”, afirma o diretor da Russer, que acredita que conseguirá todos os componentes – pouco mais de cem – em breve e deve ter um protótipo pronto em duas semanas. Segundo a Russer, a maior parte das peças é encontrada no mercado nacional. Até agora, ele conseguiu uma parceria com a Fundação Indaiatubana de Educação e Cultura (Fiec) que dá suporte com professores e especialistas que têm ajudado no projeto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.