Brasil vota a favor de resolução para condenar Rússia no Conselho de Segurança da ONU; Moscou veta
Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) – O Brasil votou a favor de projeto de resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas proposto pelos Estados Unidos que condenaria a invasão da Ucrânia por tropas russas, em um posicionamento mais claro em relação à crise, depois que o presidente Jair Bolsonaro vinha evitando repudiar a ação militar.
A resolução contou com o apoio de 11 dos 15 membros do conselho, mas acabou vetada pela Rússia — que tem esse poder por ser um dos cinco membros permanentes. China, Índia e Emiradores Árabes Unidos se abstiveram.
A posição brasileira no Conselho de Segurança da ONU fora antecipada mais cedo pela Reuters.
Apesar de considerar que a resolução era excessivamente dura, o Brasil considerou necessário se posicionar em relação à opinião pública e também fazer um gesto para aumentar a pressão sobre a Rússia, ainda que Moscou tivesse o poder de veto.
Durante a votação, o embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, fez questão de destacar que não se pode fechar as portas das negociações e alertou para o risco de se tomar um caminho “sem volta”.
“Estamos vivendo circunstâncias sem precedentes. Nós estamos seriamente preocupados com a operação militar da Rússia”, disse o representante brasileiro, pouco antes da votação.
“O Conselho de Segurança deve reagir prontamente ao uso de força contra a integridade territorial de seu Estado membro. Um limite foi ultrapassado, e este Conselho não pode se manter silenciado”, defendeu Costa Filho.
“Precisamos criar as condições para diálogo entre todas as partes envolvidas. O mundo não pode se dar ao luxo de chegar a um ponto sem volta”, alertou.
O embaixador, que lamentou a rejeição da resolução devido ao veto da Rússia, aproveitou para dizer que o Brasil atuou durante as negociações para “manter um espaço de diálogo aberto” entre todos os envolvidos.
Na semana passada, em encontro com o presidente da Rússia Vladimir Putin, o presidente Jair Bolsonaro manifestou solidariedade. Depois, em declaração à imprensa, o presidente brasileiro chegou a fazer um “ajuste” no discurso, dizendo-se solidário a todos os países que se empenham pela paz. O adendo, no entanto, não evitou críticas, inclusive por parte dos Estados Unidos.
Assim que foi iniciada a invasão, Bolsonaro evitou comentá-la, explicando que, primeiro, discutiria o assunto com seus ministros da Defesa, Braga Netto, e das Relações Exteriores, Carlos França.
Costa Filho disse ainda que a missão do Conselho de Segurança da ONU não está concluída e que se por um lado os esforços falharam em impedir a guerra, devem agora, ter como foco buscar o fim das hostilidades.
O projeto de resolução proposto pelos norte-americanos condenava de forma veemente a invasão, considerava o ataque russo uma violação da paz e segurança internacionais e afirmava que Moscou cometeu um ato de agressão contra a Ucrânia.
O texto ainda dizia que a Rússia deveria retirar imediatamente todas as suas forças da Ucrânia e reverter o reconhecimento das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk.