A disputa presidencial na Guatemala será decidida em segundo turno, indicam as apurações parciais nesta segunda-feira, 17, depois de um dia de votação conturbado na véspera.
A ex-primeira-dama e candidata de centro-esquerda Sandra Torres tem ampla vantagem para o segundo colocado, mas não o suficiente para evitar o confronto com um adversário conservador. Com os votos de 97% das seções eleitorais apuradas, Torres aparece com 25,27% dos votos, seguida pelo conservador Alejandro Giammattei, com 13,93%.
Depois da divulgação do balanço da apuração, Torres afirmou que trabalhará por alianças que permitam sua vitória no segundo turno, previsto para o dia 11 de agosto. “O país precisa de unidade: (para) unir o campo com a cidade, os trabalhadores com a comunidade empresarial e também na sociedade civil, em todos os setores”, disse.
Na noite de domingo, a diretora a autoridade eleitoral da Guatemala afirmou, no entanto, que os resultados definitivos do primeiro turno podem levar até duas semanas para serem computados e divulgados.
O próximo presidente guatemalteco enfrentará a difícil tarefa de conter a violência das gangues ligadas ao tráfico de drogas que devastou o país e ajudou a estimular a imigração ilegal para os Estados Unidos, fator que fez desandar as relações com o presidente americano, Donald Trump.
Torres, do partido de centro-esquerda UNE, liderou por várias semanas as pesquisas da disputa para suceder o presidente Jimmy Morales, ex-apresentador de televisão conservador cujo mandato foi prejudicado por acusações de corrupção feitas por investigadores apoiados pela ONU.
No entanto, ela também enfrenta altos índices de rejeição que podem atrapalhar seus planos para vencer o segundo turno se os apoiadores dos muitos candidatos de direita e centro-direita se unirem contra ela.
Ao todo, 19 candidatos participaram da votação. Em terceiro lugar, com 11,18%, aparece o centrista Edmond Mulet, ex-funcionário da ONU cuja candidatura conservadora ganhou força nas últimas semanas.
Torres, que quer colocar soldados nas ruas para combater os traficantes e usar programas de assistência social para diminuir a pobreza, tentou se aproximar da elite empresarial da Guatemala ao votar no domingo.
A violência desenfreada e um descontentamento generalizado em razão de casos corrupção e impunidade no país de 17 milhões de habitantes levaram cada vez mais os guatemaltecos a fugirem para os EUA.
Essa onda migratória minou a promessa de Trump de conter a imigração ilegal e fez o presidente americano reagir e ameaçar cortar a ajuda dos EUA à América Central. Essa perspectiva causou preocupação na Guatemala, onde o legado da sangrenta guerra civil de 1960 a 1996 ainda tem um grande impacto no desenvolvimento do país.
Preocupações com Legitimidade
Os resultados preliminares também sugerem um considerável descontentamento entre o eleitorado com os candidatos na disputa presidencial. Um sinal disso é que mais de 13% dos votos expressos foram brancos ou nulos, mostrou a apuração.
O presidente Morales, que não pode tentar reeleger-se já que a Constituição do país permite apenas um mandato, assumiu o cargo em 2016 prometendo acabar com a corrupção depois que seu antecessor caiu após uma investigação liderada pela Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG) apoiada pela ONU.
No entanto, o próprio Morales tornou-se alvo de uma investigação da CICIG por supostas irregularidades no financiamento de campanhas e esteve sujeito a um processo de impeachment em 2017. Ele resistiu à tentativa de tirá-lo do poder e se envolveu em uma amarga disputa com a CICIG antes do fim de seu mandato, previsto para setembro.
Nenhum dos principais candidatos apoiou inequivocamente a CICIG, com Sandra Torres dizendo que consideraria realizar um referendo sobre a permanência da Comissão na Guatemala.
Questões de legitimidade também marcaram a disputa deste ano, uma vez que dois dos principais candidatos foram eliminados, incluindo Thelma Aldana, uma ex-procuradora-geral que tentou levar adiante o impeachment de Morales. O governo acusou Thelma de corrupção, levando à sua impugnação no mês passado.
Além disso, a Justiça vetou a candidatura de Zury Ríos, filha do falecido ditador Efraín Ríos Montt, por um dispositivo constitucional que impede a postulação de parentes diretos de pessoas que participaram em golpes de Estado. (Com agências internacionais)