Uma cave de espumantes no coração de Piraquara

Publicado em 12 set 2019, às 00h00.

A cave de espumantes Colinas de Pedra nasceu de um sonho, um sonho que até hoje Ari Portugal, seu fundador, não sabe se foi miragem ou de fato uma conversa real que mudou sua vida. 

Aos fundos de uma estação ferroviária de Roça Nova, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, é que nasceu a Cave Colinas de Pedra. Em uma área de 45 hectares, a ideia inicial era a construção de uma pousada ecológica. Mas o destino tinha planos mais profundos e surpreendentes para a família Portugal

Cave Colinas de Pedra, em Piraquara

Cave Colinas de Pedra, em Piraquara. (Foto: Renata Nicolli, editora do RIC Mais)

Cave de espumantes: sonho ou realidade?

Em 2000, Ari Portugal adquiriu em leilão a estação e o túnel ferroviário localizado nos arredores da propriedade, além de claro, o charme de uma litorina sucateada.

O objetivo para isso: a pousada. Mas por pouco tempo. “Quando nós compramos não tinha nenhum propósito do que faríamos com ele. Mas uma coisa eu sabia: ele era muito bonito, tinha uma engenharia muito bonita, alguma coisa se prestaria. E de fato, aconteceu isso”, conta.

Cave Colinas

A charmosa litorina sucateada da Cave Colinas de Pedra. (Foto: Renata Nicolli, editora do RIC Mais)

Era rotineiro para Ari ir ao túnel admirar a beleza que o fez colocar a mão no bolso para poder o chamar de seu. Dessa maneira, logo depois de um tempo o empresário lembra que estava na “boca do túnel” pensando em alternativas que ele e sua família teriam para utilizar tanta beleza de forma turística. 

Túnel Cave Colinas de Pedra

A famosa boca do túnel. (Foto: Renata Nicolli, editora do RIC Mais)

“Nesse momento saí uma pessoa de dentro do túnel e pergunta pra mim de quem era o túnel. Eu falei que era meu. Aí ele disse: ‘o senhor sabia que esse túnel vale ouro?’. E respondi: ‘olha moço, eu to pensando aqui, não sei o que fazer com ele, se o senhor quiser eu te vendo a preço de prata’”. 

Imagina só se o rapaz em questão tivesse com o cheque no bolso? 

Em seguida, o empresário conta que o indivíduo na porta do túnel o contou que morou na França, e que lá era comum se fazer o envelhecimento de champagnes em casas subterrâneas.

“E essas casas são muito frias, e esse seu túnel aqui é muito frio. Se eu fosse você, iria atrás desse assunto”, aconselhou o desconhecido.

De forma franca, Ari contou em entrevista que não se lembra se aquilo foi um sonho ou realidade. Mas, o que importa é que desde então ele estuda sobre o universo dos vinhos. “É só o que eu lembro dessa pessoa. Mais nada. Não sei pra onde ele foi, não lembro de ter agradecido a ele, enfim, até nem sei se essa pessoa existiu, se isso foi um sonho ou se foi alguma coisa”, conta em meio a risadas e brilho nos olhos. 

Cave de espumantes em Piraquara

Estrutura na entrada na cave de espumantes Colinas de Pedra. (Foto: Renata Nicolli, editora do RIC Mais)

O fechamento do túnel de espumantes

De lá pra cá, a partir de conversa que mudou tudo, Ari Portugal se jogou no mundo dos vinhos e viajou muito. Conforme ele, foram três anos de estudo. A partir de então, uma decisão importante foi tomada: o fechamento do túnel.

Após ser fechado nas duas bocas, foram realizados testes diários no túnel por dois anos consecutivos: testes de temperatura e umidade, além de contatos e pesquisas com profissionais do vinho.

Cave

Uma cave de espumantes pra chamar de nossa! (Foto: Renata Nicolli, editora do RIC Mais)

No processo, foi constatado que a temperatura interna do túnel variava apenas 1°C ao longo do ano, sendo 16°C no inverno e, no máximo 17°C no verão, ou seja, uma excepcionalidade que reunia as condições perfeitas para a maturação de vinhos e espumantes.

Do final de 2010 ao final de 2014 nós fizemos toda a infraestrutura necessária dentro e fora do túnel, para receber as primeiras garrafas, o que aconteceu em 2013. Em 2013, recebemos as primeiras garrafas, ficaram dois anos envelhecendo aqui dentro e aí, partindo desse período, nós retiramos as leveduras e finalizamos o produtos. Nós normalmente aqui fazemos a natura e a Extra Brut e Brut, tanto nas linhas de uva Chardonnay e Pinot Noir”, explica Portugal.

túnel cave de espumantes

Com 429 metros de extensão, o trajeto até a cave não é feito a pé, mas de uma espécie de carrinho de transporte. (Foto: Renata Nicolli, editora do RIC Mais)

Guarda, maturação e processos finais dos espumantes

Com 429 metros de extensão, cinco metros de altura e 3,5 metros de largura, a cave é responsável pela guarda, maturação e processos finais dos espumantes pelo método de elaboração Champenoise, que compreende a rèmuage, dégorgement, adição do licor de expedição, rolha, gaiola e rotulagem.

espumantes cave

A cave é responsável pela guarda, maturação e processos finais dos espumantes. (Foto: Renata Nicolli, editora do RIC Mais)

“A primeira fase de elaboração do espumante é feita pela tradicional vinícola brasileira Cave Geisse, localizada em Pinto Bandeira, no Rio Grande do Sul, do enólogo chileno Mário Geisse, e toda administração fica por conta da família Portugal”. 

cave colinas de pedra espumantes

Parte interna da Cave Colinas de Pedra. (Foto: Renata Nicolli, editora do RIC Mais)

Paraná e a indústria do enoturismo

Angela Broch, mestre em desenvolvimento econômico e representante do Corecon, acredita que o consumo e o crescimento da indústria nos vinhos e espumantes paranaenses é uma tendência sinalizada tanto pelo incremento no consumo quanto nas ações políticas publicas e decisão de empresários do setor.

Dados da Secretaria de Estado do Turismo apontam que o Paraná vem alcançando o mercado de vinhos finos e hoje possui 13 vinícolas com capacidade de produzir vinhos e espumantes com as características da região.

Além disso, de acordo com dados de pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade Federal do Paraná, cerca de 50 mil turistas passam anualmente por alguns dos municípios da Região Metropolitana de Curitiba.

Entre esses turistas, grande parte é atraída pelo enoturismo, que reúne passeio e  gastronomia, o inclui os vinhos e espumantes.

O estado, que ocupa o quarto lugar segundo dados da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, recebe as maiores visitas destinadas a esta prática em Colombo, Campo Largo, São José dos Pinhais e Piraquara.

Conforme Portugal, várias vinícolas contemplam a região metropolitana de Curitiba, além de claro o interior do estado. “Com a criação da Vinopar, que é a associação dos Vitivinicultores do Paraná, com o apoio da Secretaria da Agricultura, do Governo do Estado, está havendo um movimento muito grande para o plantio de uvas, e naturalmente não só a produção de espumantes, mas também de vinhos e de sucos. O nosso estado tem potencial para isso e com certeza vai ser muito desenvolvido para os próximos anos”, aposta o empresário.

Veja a entrevista completa com Ari Portugal!