Os clubes de São Paulo e a Federação Paulista de Futebol (FPF) ficaram bastante insatisfeitos e surpresos com a decisão anunciada nesta quarta-feira pelo governador João Doria de autorizar a volta dos times aos treinos apenas para 1.º de julho. Dirigentes e comissões técnicas das equipes esperavam uma liberação imediata para a retomada das atividades depois de mais de três meses de paralisação causada pela pandemia do novo coronavírus.
A frustração ecoada entre clubes e a FPF é resultado da expectativa criada na noite de terça-feira, quando o vice-governador Rodrigo Garcia enviou ao presidente do Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo (TJD-SP), Antonio Olim, uma mensagem com a informação de que Doria confirmaria a liberação em entrevista coletiva marcada para quarta. Cientes desse contato, os clubes já se preparavam para reabrir as portas, mas ficaram surpresos quando Doria anunciou que a autorização seria a partir de 1.º de julho.
Em nota oficial, a FPF lamentou a data. “O anúncio, com o distante reinício das atividades, causou estranheza”, disse o texto. A entidade convocou para a tarde desta quinta-feira uma reunião extraordinária com as equipes para debater o retorno. Vários dirigentes e clubes procurados pelo Estadão se disseram surpresos com o governo. “O anúncio foi bem negativo. A data articulada para a volta era o dia de hoje (quarta)”, afirmou o diretor executivo da Inter de Limeira, Enrico Ambrogini.
Os quatro principais clubes do Estado já se organizavam para receber novamente os jogadores nos próximos dias. As diretorias compraram testes e realizaram até adaptações nas estruturas físicas nos centros de treinamento para preservar o isolamento social neste início de retomada. As equipes tinham montado um cronograma para exames e atividades individuais. Alguns atletas que estavam em outras cidades e até fora do Brasil haviam sido avisados para voltar o quanto antes, pois a reapresentação seria em breve.
“O anúncio do governador pegou todo mundo de surpresa. Daqui a pouco não vai dar mais para esperar porque em agosto já querem começar o Campeonato Brasileiro e já tem times de outros Estados voltando a jogar”, criticou o presidente do TJD-SP, Antonio Olim. “Hoje em dia está mais fácil pegar o coronavírus no shopping do que jogando futebol. Deveriam ter liberado os treinos”, criticou.
O presidente do Santo André, Sidney Riquetto, demonstrou resignação. “Eu não sei mais o que fazer. Eu desanimei. A parte financeira está difícil porque estamos sem jogar e sem ter recursos. Ainda vamos ter de esperar mais tempo. Parecia que teria uma liberação imediata, mas mudou tudo”, lamentou. “Outros presidentes pensam o mesmo que eu. Já tínhamos de voltar a treinar logo”, completou.
“Nós não entendemos o motivo de a data ser 1.º de julho e não agora. Até as prefeituras haviam autorizado a volta aos treinos. A decisão do governo foi uma surpresa. A proposta dos clubes é para se fazer apenas treinos individuais. Os jogadores estão mais protegidos em um CT do que ir ao mercado”, disse o presidente do Mirassol, Edson Hermenegildo.
No Novorizontino, o presidente Genilson Santos afirmou que contava em poder receber nesta semana os jogadores para a bateria de exames. “Vejo que agora ficou mais difícil, porque os clubes se programaram, se organizaram em cima do protocolo médico da FPF e agora tudo se atrasou. Nós pensávamos que o retorno (aos treinos) seria antes e nos preparamos para isso”, comentou.
DIFERENTE – No Botafogo-SP, a preocupação no momento é maior até com a pandemia. O município de Ribeirão Preto está em situação crítica no combate. Como o alerta continua até o próximo dia 28, a equipe considera mais seguro voltar somente em julho. “Pelo menos podemos conseguir ter condições melhores de saúde pública na cidade. Pelo menos estamos com essa data definida agora, mas é preocupante ficar tanto tempo parado”, disse o presidente do Conselho de Administração da S/A do Botafogo, Adalberto Baptista.