O primeiro sábado de permissão de abertura dos bares e restaurantes até 22h na cidade foi marcado por estabelecimentos cheios, com todas as mesas ocupadas, e aglomerações na Vila Madalena, um dos endereços tradicionais da boemia paulistana. Os pontos de maior concentração aconteceram ao longo da tarde e no início da noite, em frente aos telões que exibiam a final do Campeonato Paulista. Embora seja obrigatória em locais públicos, a máscara não foi utilizada pela maioria dos frequentadores.
Na esquina das ruas Aspicuelta e Fradique Coutinho, clientes se aglomeravam e bebiam em pé nas calçadas diante do telão do Ponto X. O estudante de Letras Carlos Augusto Rodrigues, de 23 anos, confessou que estava sentindo falta de encontros públicos. “É bom ver as pessoas voltando às ruas. O problema é que muita gente está sem máscara”, reclamou. Também houve pequenas aglomerações em frente aos telões instalados nas bares O Pasquim e Armazém, todos na rua Aspicuelta, e também no boteco São Bento, já na esquina com a Mourato Coelho. Mesmo após o fim da partida, as aglomerações diminuíram, mas não desapareceram totalmente.
As aglomerações nas calçadas, assim como comer e beber em pé, são práticas proibidas pelo protocolo municipal para reabertura de bares e restaurantes. A intenção é evitar a disseminação do novo coronavírus que atingiu a marca de 100 mil mortes neste sábado. A fiscalização esteve presente, mas pouco atuante. Havia pelo menos quatro fiscais da prefeitura, identificados com coletes laranja, nos principais quarteirões do bairro boêmio da zona oeste. Por volta das 18h30, viaturas da Guarda Civil Metropolitana começaram a circular pelo bairro para tentar diminuir as aglomerações.
Dentro dos estabelecimentos, as medidas de prevenção já foram incorporadas. Funcionários com escudo de proteção ou máscaras oferecem álcool em gel na porta e aferem a temperatura. Em alguns estabelecimentos, as mesas estão mais distantes umas das outras. Nem existe mais o contato manual com o cardápio. Por meio de um QR-code, o cliente escolhe seu pedido pela tela do celular.
Nessa fase da retomada, os estabelecimentos podem atender, no máximo, 40% da sua capacidade. No dia quente de sábado, todos os bares e restaurantes estavam com todas as mesas ocupadas. A capacidade máxima foi atingida com facilidade no Posto 6, por exemplo. As mesas com distanciamento maior foi uma das razões que levaram a arquiteta Andrea Soares, de 38 anos, a escolher o local. “É preciso encontrar os amigos, mas não queria muita muvuca. Está tudo lotado lá para cima”, diz, apontando em direção à parte mais elevada do bairro.
Em alguns bares, havia até pequenas filas de clientes esperando por uma mesa. Foi o caso da professora Roberta Falveno Di Nizo, de 38 anos, que esperava para entrar no Pasquim, um dos mais concorridos da região. “Achei esse novo horário muito bom. Não havia sentido em fechar as portas às 17h, quando muita gente estava chegando”, opinou a educadora.
O horário, no entanto, ainda é visto com ressalvas pelos representantes do setor. O empresário Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares, empresa que administra dez casas em São Paulo, afirma que o horário atual representa apenas a extensão do happy hour. “É uma medida positiva, mas que representa uma extensão do happy hour. Ainda não temos o horário nobre da noite”, opina o empresário. “O próximo passo seria a abertura das calçadas. Isso teria um impacto positivo do ponto de vista econômico e também sanitário, pois usaríamos espaços arejados”, afirma.
Outros empresários apontaram mudanças no funcionamento interno causadas pelo horário. Para fechar as 22h, a cozinha tem de encerrar as atividades uma hora antes e as contas têm de ser encerradas por volta das 21h30. Tanto o governo estadual quanto a prefeitura vinham sofrendo pressão para a ampliação do horário de abertura para atender estabelecimentos, como pizzarias, que não costumam ter atendimento durante o dia.
Funcionamento irregular e interdições
A Prefeitura de São Paulo interditou nesta sexta-feira, 7, 25 bares por funcionamento irregular, fora do horário permitido. A ação teve a apoio da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar. Foram interditados oito bares em Itaquera, quatro em Santana, oito em São Mateus, três na Sé e dois na Vila Mariana.
A Prefeitura afirma que fiscaliza diariamente os estabelecimentos que excedem o horário e que, desde o início das restrições, os agentes têm trabalhado na fiscalização. De acordo com a administração municipal, 885 estabelecimentos foram interditados por descumprirem as regras vigentes. O valor da multa é de R$ 9.231,65, aplicada a cada 250m². Os estabelecimentos devem solicitar a desinterdição na subprefeitura da região.