Inflação nossa de cada dia
Você já deve ter notado que o preço de bens e produtos básicos do nosso dia a dia estão cada vez mais altos. Seja o pão que compramos na padaria do bairro, o arroz e o feijão – companhias habituais na nossa mesa -, a conta de energia elétrica ou aquela viagem de carro no fim de semana com a família. Parece que sobra vontade e mês, não é mesmo? Isso está acontecendo porque o poder de compra do paranaense está perdendo força.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, fechou o mês de julho com alta de 0,96%. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) esta foi a maior variação para um mês de julho desde 2002. Mas por que isto está acontecendo?
Antes de tudo, é importante entendermos o que é inflação. É o nome dado ao aumento dos preços de produtos e serviços no país. O IPCA é o instrumento oficial do governo federal. O objetivo é medir a variação de preços de uma cesta de produtos e de serviços consumida pela população. A ideia é definir se os valores subiram ou diminuíram a cada mês. Já adianto que a tendência, nos últimos meses, é de elevação inclinada.
A previsão do mercado financeiro para o acumulado do IPCA deste ano é de 6,88%. Esta projeção já foi elevada dezoito vezes só em 2021. Só que a meta do governo federal ainda é de 3,75%. Ou seja, a conta não bate e a previsão é que estes números só aumentem. Fatores externos, como a alta do dólar, o aumento da exportação de produtos agrícolas e a crise pandêmica – que dificultou a vida da iniciativa privada e resultou em um índice alarmante de desemprego – também contribuíram para este cenário que estamos vivendo.
Um dos principais pilares desta situação envolve a insegurança do empresário brasileiro. A iniciativa privada entende que a perda de poder aquisitivo por parte do seu funcionário se faz presente. Entretanto, com as dificuldades que ele enfrenta atualmente, sem nenhuma perspectiva de melhora ou de estabilidade econômica, a insegurança ainda é muito grande para garantir uma readequação deste poder aquisitivo do seu próprio efetivo, além de oferecer novas oportunidades de emprego e renda. Esta instabilidade ocasiona sérios danos à nossa economia. Não são poucas as multinacionais que já deixaram nosso país. Entre tantos motivos, destacam-se este risco presente da economia brasileira, além da desestabilização política e jurídica.
Mas nem tudo envolve más notícias. O Clima Econômico da América Latina deu sinais de melhora no segundo trimestre deste ano, em comparação ao trimestre anterior. De acordo com o Indicador de Clima Econômico da América Latina da Fundação Getúlio Vargas, os números avançaram de 70,5 para 81,2 pontos entre os dois períodos. Segundo este levantamento, todos os países registram indicadores desfavoráveis diante da situação econômica atual, mas mostram expectativas favoráveis para os próximos meses, exceto a Argentina.
Agora, voltando ao Brasil. Não quero fazer nenhuma crítica ao atual governo. Muito pelo contrário. O objetivo aqui é provocar discussões para entendermos e nos prepararmos para o que nos espera no fim deste cenário pandêmico que vivemos hoje. É evidente que o executivo nacional enfrentou muitos desafios nos últimos meses, mas agora é preciso agir. Ainda mais que 2022 é ano político. Como a polarização política está cada vez mais acentuada, este cenário gera sérias preocupações.
De um lado está o governo federal que acredita numa retomada robusta da atividade econômica nos próximos meses – mas também não descarta a possibilidade de que a inflação ainda vai se mostrar persistente. Do outro, está a iniciativa privada que ainda mantém a baixa confiança na economia brasileira, sofre com a alta carga tributária e precisa lidar com a volatilidade do real em relação ao dólar. E, na ponta do iceberg, está o consumidor. Ainda desamparado com a falta de ação governamental e que aguarda ansiosamente por medidas para reequilibrar a matemática da oferta e demanda e que, por fim, não sofra tanto ao garantir o básico para o sustento.