Morre Rosy de Sá Cardoso, 1ª mulher a ter registro profissional de jornalista no Paraná

Publicado em 3 fev 2022, às 12h02. Atualizado às 14h26.

Faleceu, na madrugada desta quinta-feira (3), aos 95 anos, a jornalista Rosy de Sá Cardoso. Nascida em Curitiba, no ano de 1926, Dona Rosy, como era carinhosamente chamada, foi a primeira mulher a ter registro profissional de jornalista no Paraná, credencial que usou em seis décadas de atuação em redações da capital.

A jornalista estava internada no Hospital da Cruz Vermelha, na capital, e morreu por falência múltipla dos órgãos em função da idade avançada.

Trajetória

Rosy começou no colunismo social, mas construiu sua trajetória sobretudo na editoria de Turismo, especialidade que a fez viajar por mais de 90 países ao redor do mundo. O amor pela profissão e a predileção pela crônica paranaense ajudaram numa carreira longeva, que só se encerrou em 2017. Nas últimas quatro décadas, atuou no jornal Gazeta do Povo, onde deixa uma legião de colegas e ex-leitores. 

Pesar

Na manhã desta quinta-feira, a Secretaria de Estado da Comunicação e da Cultura manifestou profundo pesar pelo falecimento da jornalista.

“Nossas condolências à família e aos amigos. Dona Rosy é uma referência do jornalismo no Paraná. Ela ajudou a construir e consolidar a profissão como um pilar da sociedade moderna”,

afirmou João Evaristo Debiasi, secretário da Comunicação Social e da Cultura.

O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, também lamentou o falecimento e publicou alguns dos marcos da jornalista em suas redes sociais.

“Era filha de dona Xaguana Gomes de Sá e Jayme Machado Cardoso, irmã de Regina. Estreou, em 1948, cantando boleros na Rádio Guairacá. Carreira dentro das redações de O Dia, Estado do Paraná,Gazeta do Povo. Conheceu 90 países. Foi correspondente da Copa do Mundo de 1950. Colaborou com o historiador Júlio Estrela Moreira na edição – em 1975 – da sua importante obra em 3 volumes “Caminhos da Comarca de Curitiba e de Paranaguá”, sobre o Itupava, o Arraial e a Estrada da Graciosa”,

escreveu o prefeito.

Veja:

Atualização

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor) também se manifestou, estendendo os sentimentos de pesar aos amigos e familiares de Rosy, e relembrou a carreira da jornalista.

De acordo com o Sindijor, Rosy teve que enfrentar casos de discriminação por pessoas que viam com “maus olhos” a presença de mulheres em redações e até de familiares, que consideravam o ato uma “vergonha da família”.

O primeiro emprego da jornalista foi no jornal O Dia, onde se consagrou como a primeira colunista social na cidade de Curitiba. Depois, trabalhou no jornal O Estado do Paraná, na Revista Divulgação, na Revista Alta Sociedade e no Diário do Paraná. Além de jornais, também atuou em televisão, tanto como produtora quanto apresentadora. Entre eles o programa de variedades que ia ao ar no canal 6, a TV Paraná, afiliada da Tupi, que foi na época um grande sucesso.

Veja outros trechos da publicação do Sindijor:

“A partir de 1977, Rosy passou a trabalhar na Gazeta do Povo, jornal em que atuou por mais de 40 anos e até recentemente ainda contribuía com seus trabalhos jornalísticos. Na Gazeta, ela fez a fez sua primeira viagem ao exterior e, de 1969 a 1999, se dedicou exclusivamente à editoria de turismo.

Com a grande importância dos jornais impressos antes da chegada da internet, Rosy teve a oportunidade de viajar para todo o mundo. Em 70 anos de profissão, ela visitou cerca de 90 países nos cinco continentes. No Brasil foram centenas de viagens, para as mais diversas cidades e regiões.

“Trabalhei ao lado da Rosy por quase trinta anos. A gente brincava na redação que ela era a pessoa que mais países, cidades e lugares conheceu no mundo. Sua história é um exemplo de persistência, de missão como jornalista e de vida. Me lembro dela, já com quase noventa anos, ainda dirigindo seu próprio carro. Sua morte deixa um vazio no jornalismo”, lamenta o jornalista Célio Martins, editor e colunista da Gazeta do Povo e presidente do SindijorPR.

Rosy trabalhou em uma época em que as redações eram ambientes construídos por e para homens e rompeu barreiras tornando-se a primeira jornalista registrada em carteira no Paraná.

“A morte de Rosy de Sá Cardoso deixa um legado inestimável para o jornalismo.Ela foi a primeira mulher com carteira assinada no Estado, a primeira a ser filiada ao Sindicato dos Jornalistas e objeto de estudo de muitos jornalistas das gerações que a sucederam. Foi desbravadora de um território na época ainda inóspito para as mulheres, abrindo caminho para nós, e por isso sempre merecerá nossa reverência”, comenta a professora universitária e diretora executiva do SindijorPR, a jornalista Silvia Valim.”