Multidão vai à Vila Belmiro para homenagear e se despedir do rei Pelé
Por Eduardo Simões
SANTOS (Reuters) -Jogadores do Santos foram à Vila Belmiro para prestar as últimas homenagens a Pelé nesta segunda-feira, engrossando uma multidão que já passava de 14 mil pessoas que estiveram no estádio para se despedir do maior jogador de futebol de todos os tempos, que morreu na semana passada, aos 82 anos, em decorrência de um câncer.
Os milhares de fãs de Pelé –a maioria com as camisas do Santos e da seleção brasileira, mas também de outros clubes– aguardavam cerca de duas horas em uma fila que se estendia por mais de 400 metros no entorno do estádio onde Pelé encantou o mundo de 1956 a 1974, período em que atuou na equipe santista, para vê-lo pela última vez.
A última passagem de Pelé pelo gramado do estádio Urbano Caldeira, onde ele encantou multidões com seu futebol inigualável, também foi prestigiada por autoridades do esporte e da política. O velório avançará pela madrugada até as 10h de terça-feira, e receberá pela manhã o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“A importância do Pelé para um torcedor é muita. Eu o conheci por meio do meu pai e não posso esquecê-lo, é uma coisa que não posso descrever, estou emocionado”, disse à Reuters o torcedor Sergio Roberto Oliveira enquanto aguardava na fila para entrar no gramado da Vila.
“É um sentimento de perda de um ídolo de todos. É o homem que levou o nome do país a todos os lados”, disse Airton Pacheco, que também estava na fila para o adeus a Pelé.
Além de uma legião de torcedores, autoridades da política brasileira e do esporte de todo o mundo também vieram a Santos despedir-se do maior jogador de futebol de todos os tempos. Entre eles o presidente da Fifa, Gianni Infantino, que fez um pedido para que cada país do mundo tenha pelo menos um estádio batizado em memória do rei do futebol.
“Vamos pedir para que todos os países do mundo tenham pelo menos um estádio com o nome do Pelé para que as crianças saibam a importância dele”, disse Infantino a jornalistas ao chegar ao velório ao lado dos presidentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, e da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), Alejandro Domínguez.
O corpo de Pelé chegou a Santos vindo do hospital Albert Einstein, em São Paulo, pouco antes das 4h desta segunda, e está sendo velado no centro do gramado que o camisa 10 tornou mundialmente famoso. Ao entrar em uma das ruas que dá acesso ao estádio na madrugada, o comboio com o corpo de Pelé foi recepcionado com fogos de artifício.
Dentro da Vila Belmiro, o caixão era visto por torcedores em um circuito gradeado montado pelo clube, no qual os súditos do rei do futebol passavam em frente ao corpo de Pelé.
Nas arquibancadas do estádio, faixas homenageavam o rei do futebol. “Viva o Rei”, “Camisa 10 do Santos” e “O Único a Parar uma Guerra”, diziam algumas delas.
No final da tarde, jogadores da equipe Sub-20 do Santos que estão disputando a Copa São Paulo foram ao velório homenagear Pelé, o principal nome da história de um clube prolífico em revelar craques para o futebol.
Pouco depois, atletas da equipe profissional do clube também compareceram e, antes, o ex-jogador Paulo Roberto Falcão, atual coordenador esportivo do Santos, e o atual técnico da equipe, Odair Helmann, também renderam homenagens a Pelé.
Colega de Pelé no Santos, o ex-volante Clodoaldo, que atua como assessor especial da presidência do clube, exaltou o amigo e defendeu a aposentadoria da camisa 10 do clube, embora tenha ressaltado ser pessoalmente favorável à ideia, que disse que ainda precisa ser debatida pela direção do clube.
“Essa questão tem que ser muito bem estudada e feito um projeto que esteja à altura do rei Pelé, dessa aposentadoria definitiva da camisa do rei Pelé. Ela vai continuar circulando, porque acho que o mundo tem desejo de adquirir a camisa 10 do Rei, só que de outra forma”, defendeu.
Um dos que também vieram à Vila Belmiro prestar as últimas homenagens a Pelé foi Neymar da Silva Santos, pai do atacante do Paris Saint-Germain e da seleção brasileira Neymar, que disse que veio representar o filho, que não poderá comparecer ao velório.
“É muita tristeza, por isso que meu filho pediu que eu tivesse aqui para que eu pudesse, no lugar dele, trazer apoio à família, porque a gente sabe como é ruim perder alguém. Não perdemos só o atleta, perdemos o cidadão, perdemos a pessoa Pelé, perdemos o Edson Arantes”, disse o pai de Neymar, acrescentando que o último contato da estrela do PSG com Pelé foi por telefone.
O corpo de Pelé deixará o estádio em cortejo fúnebre pelas ruas dos Santos, passará em frente ao local onde mora Dona Celeste, a mãe do astro que completou 100 anos em novembro e ainda mora na cidade, e depois seguirá para uma cerimônia privada no Memorial Necrópole Ecumênica, onde Pelé, tricampeão mundial com a seleção brasileira em 1958 –com apenas 17 anos–, 1962 e 1970, será sepultado.
GOLS PARA O MUNDO E OUTRO PATAMAR
Além dos presidentes da Fifa, da CBF e da Conmebol, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) também viajou a Santos, assim como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“A gente tem que destacar que o Pelé não fez só gols para o Brasil nos estádios, ele fez gols para o Brasil no mundo”, disse Nunes, que anunciou que um ginásio será construído na região paulistana do Ibirapuera e batizada com o nome de Pelé.
“Nós vamos construir um ginásio ali onde é o Ibirapuera, na Secretaria de Esportes, ao lado de onde a gente tem a pista de ciclismo, e será o Ginásio Pelé”, disse, acrescentando que o programa Bolsa Atleta da prefeitura também receberá o nome do rei do futebol.
Tarcísio, por sua vez, elogiou o legado de Pelé e disse que o ex-jogador é incomparável. “Só se pode discutir quem foi o maior da história entre os normais, porque o Pelé está em outro patamar. Ele orgulhou sempre o Brasil pela sua genialidade dentro de campo e também por sua postura fora de campo”, disse.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é torcedor do Corinthians, comparecerá ao velório às 9h de terça-feira, segundo informou o Palácio do Planalto, pouco antes de Pelé deixar pela última vez o gramado da Vila Belmiro no cortejo fúnebre pelas ruas de Santos que culminará com seu sepultamento no cemitério Memorial Necrópole Ecumênica.
(Reportagem adicional de Laís Morais e Miguel Lo BiancoEdição de Pedro Fonseca)