Suzano e todo país ainda está em choque pelo massacre na escola. (Foto: Reprodução/Câmera de Segurança)

Policial aposentado da cidade americana de Boston afirmou que falta uma política de prevenção e treinamentos para prevenir ataques em escolas

O brasileiro Joaquim Adão Cesar, 73, mora nos EUA e trabalhou como policial em Boston por 32 anos. Ele vem ao Brasil a cada três meses e avalia que falta prevenção no Brasil para tentar evitar ataques como o ocorrido nesta quarta-feira (13), na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo.

Falta de prevenção alimenta ataques

“Estou abismado como estão levando esse caso. Ninguém está fazendo nada. Ninguém tenta melhorar para o futuro. No Brasil, deveriam conversar com todas as crianças, explicar o que aconteceu e tentar iniciar uma prevenção para o futuro. Estão dando muito valor para os que fizeram o ataque. E é tudo aquilo que eles queriam. Lá [nos EUA], eles não falam”, diz Adão.

Já aposentando, Joaquim está no Brasil e acompanha o noticiário sobre o ataque em Suzano, mas está perplexo, pois na escola de sua filha mais nova, que tem 13 anos e estuda em Avaré, cidade distante 260 km da capital paulista, ninguém conversou sobre o assunto. “Ninguém na escola falou nada para ela. As escolas não falam sobre esse assunto. Acho isso errado. Nos Estados Unidos, todas as escolas trazem conselheiros de fora para conversar com as crianças e falar como prevenir”, relata.

Ele trabalhou na polícia da cidade americana por 32 anos (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Política de prevenção contra ataques 

Segundo o ex-policial, nos Estados Unidos existe uma política de prevenção contra ataques semelhantes. “Hoje, todas as escolas têm uma segurança muito grande. Todas têm detectores de metal, portaria e algumas têm policiais. As crianças de todas as idades têm treinamento para saber como agir“, diz.

Em alguns Estados americanos, os alunos recebem inclusive mensagens de texto no celular caso exista uma ameaça em suas escolas. “A prevenção é muito forte. Fiquei abismado por não ter esse tipo de prevenção [no Brasil]. Eles dizem o que as crianças devem fazer. Certas escolas contam com pessoas armadas para evitar acidentes graves. É difícil prever, mas eles tentam prevenir”, explica Joaquim.

Ele também destaca que a legislação é mais rigorosa para tratar os autores destes ataques. “Lá, se pegam alguém fazendo isso, será julgado como adulto e poderia ter pena de morte. No Brasil, se pegam uma criança fazendo isso, daqui a cinco ou seis anos, estará solta. É preciso uma reforma geral.”

Adão defende que o Brasil não deve medir esforços para que fatos como o de Suzano não aconteçam mais. “Porque, queira ou não, isso vai afetar as crianças. A educação no Brasil está muito a desejar. Deveriam colocar todas as energias do governo para melhorar.”

Massacre na Escola Raul Brasil

Um adolescente, de 17 anos, apontado como terceiro suspeito de ter participado do ataque na escola foi liberado após ser ouvido. Ele foi ouvido em uma oitiva informal, procedimento administrativo em que um adolescente suspeito de um delito é ouvido por um promotor de justiça. Segundo o Ministério Público (MP-SP), não foram constatados indícios suficientes e foram requisitadas diligências complementares por parte das autoridades policiais para, posteriormente, se for o caso, pedir a internação do adolescente, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Vídeo mostra ação de atiradores

Um vídeo mostra os dois atiradores dentro da escola de Suzano e iniciam o ataque na manhã desta quarta-feira (13). As imagens de uma câmera de segurança interna da escola estadual Professor Raul Brasil foram obtidas pela TV Record e pelo Portal R7 (assista abaixo). O vídeo mostra Guilherme Taucci Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25 anos, atacando os estudantes e funcionários da instituição.

Ataque deixou dez mortos em Suzano

ataque deixou dez mortos, dos quais duas funcionárias da escola, seis alunos e os criminosos, que se mataram depois do massacre. Outros 11 feridos foram encaminhados a hospitais, sendo que oito ainda continuam internados. De acordo com as apurações, os criminosos faziam parte do fórum mais extremistas da internet: o Dogolachan, que reúne de forma completamente anônima usuários que incentivam crimes e atitudes de ódio. Nas postagens é comum ver menções a pedofilia, nazismo, racismo e homofobia.

Motivação

O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Pontes, disse que os jovens queriam reconhecimento dentro da própria comunidade e publicidade na mídia. De acordo com Pontes, eles pretendiam mostrar que eram tão cruéis quanto os atiradores de Columbine.

O delegado minimizou a hipótese de que um suposto bullying sofrido pelos jovens tenha motivado o massacre. No entanto, depoimentos de pessoas próximas a Guilherme Monteiro afirmaram que ele era alvo de comentários jocosos por causa de acne no rosto. Segundo relatos, o jovem fez tratamento de pele.