Otan assume posição dura em relação à China na primeira cúpula com Biden
Por Robin Emmott e Steve Holland e Sabine Siebold
BRUXELAS (Reuters) – Líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) rotularam a China como um país que vem apresentando “desafios sistêmicos” em comunicado nesta segunda-feira, tomando uma posição enérgica em relação a Pequim na primeira cúpula com Joe Biden, em uma aliança que Donald Trump abertamente desacreditou e ridicularizou.
O novo presidente dos Estados Unidos incentivou seus colegas líderes da Otan a enfrentar o autoritarismo e o crescente poderio militar da China, uma mudança de enfoque para uma aliança criada para defender a Europa da União Soviética durante a Guerra Fria.
A declaração ao fim da cúpula, que agora definirá o caminho para a política de alianças, vem um dia depois de o Grupo dos Sete (G7) emitir um comunicado sobre os direitos humanos na China e Taiwan que Pequim disse ter difamado sua reputação.
“As ambições declaradas e o comportamento assertivo da China apresentam desafios sistêmicos à ordem internacional baseada em regras e às áreas relevantes para a segurança da aliança”, disseram os líderes da Otan em comunicado após a cúpula.
Biden também disse aos aliados europeus que o acordo de defesa mútua da aliança é uma “obrigação sagrada” para os Estados Unidos – em uma mudança de tom considerável em relação ao seu antecessor Trump, que havia ameaçado se retirar da aliança e acusado os europeus de contribuírem muito pouco para sua própria defesa.
“Quero que toda a Europa saiba que os Estados Unidos estão lá”, disse Biden. “A Otan é extremamente importante para nós.”
AMEAÇA
A chanceler alemã, Angela Merkel, em sua última cúpula da aliança antes de deixar o cargo, em setembro, descreveu a chegada de Biden como o início de um novo capítulo. Ela também disse que é importante lidar com a China como uma potencial ameaça, mantendo-a em perspectiva.
“Se você olhar para as ameaças cibernéticas e as ameaças híbridas, se olhar para a cooperação entre a Rússia e a China, não se pode simplesmente ignorar a China”, disse Merkel a repórteres. “Mas também não se deve superestimá-la – precisamos encontrar o equilíbrio certo.”
Biden afirmou que a Rússia e a China não estão agindo “de maneira consistente com o que esperávamos”.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que a presença militar chinesa crescente, dos Bálticos à África, obriga a Otan a estar preparada para defender a segurança com armas nucleares.
“A China está se aproximando de nós. Nós os vemos no ciberespaço, nós vemos a China na África, mas também vemos a China investindo pesadamente em nossa própria infraestrutura crítica”, disse ele, referindo-se a portos e redes de telecomunicação.
“Precisamos reagir juntos como uma aliança”.
Stoltenberg também declarou que os líderes concordaram em aumentar suas contribuições para o pequeno orçamento comum da aliança. A grande maioria dos gastos militares na Otan é administrada separadamente pelos países membros.
Em um encontro no Reino Unido no final de semana, as nações do G7 repreenderam a China por causa da situação dos direitos humanos em sua região de Xinjiang, pediram que Hong Kong mantenha um grau elevado de autonomia e exigiram uma investigação completa sobre a origem do coronavírus na China.
A embaixada chinesa em Londres disse que se opõe resolutamente às menções a Xinjiang, Hong Kong e Taiwan, que disse terem distorcido os fatos e exposto as “intenções sinistras de alguns países, como os Estados Unidos”.
“A reputação da China não deve ser difamada”, disse a embaixada nesta segunda-feira.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ao chegar à cúpula, disse que há riscos e recompensas em relação a Pequim.
“Não creio que alguém ao redor da mesa queira entrar em uma nova Guerra Fria com a China”, afirmou ele.
(Reportagem adicional de Mark John, Sarah Young e Elizabeth Piper em Londres, Andrius Sytas em Vilnius e Kate Abnett, Gabriela Baczynska, Marine Strauss e John Chalmers em Bruxelas)