Bernardo Boldrini foi assassinado em 2014; o corpo do menino foi encontrado nu em uma cova rasa em Frederico Westphalen
O pai e a madrasta de Bernardo Boldrini foram condenados por homicídio qualificado com motivo torpe nesta sexta-feira (15), após quatro dias de julgamento.
Bernardo Boldrini
Leandro Boldrini foi condenado a 33 anos e 8 meses de prisão em regime fechado e Graciele Ugulini a 34 anos e 7 meses. A sentença foi lida pela juíza Sucilene Engler Werle por volta das 19h no Foro de Três Passos, no Rio Grande do Sul.
Pai de Bernardo
A juíza destacou que o pai de Bernardo cometeu atos de violência psicológica contra o filho e sua frieza, tudo foi provado com mensagens em seu celular, além de ser conivente com as atitudes da madrasta em relação ao menino. “O réu em vez de proteger a vítima, seu filho, obrigava-o a pedir desculpas a madrasta, se mostrando conivente com as atitudes dela”, afirmou a Sucilene Engler.
Áudios estarrecedores que vieram a público na época do assassinato foram novamente reproduzidos durante o julgamento. Neles, o Bernardo grita por socorro enquanto o pai e a madrasta chama sua mãe já falecida de vagabunda, entre outros horrores. Também foi lembrado que o menino não costumava contar sobre as violência sofridas para amigos, mas chegou a ir sozinho, em janeiro de 2014, até o Fórum da cidade para pedir uma nova família.
Desaparecimento de Bernardo
Bernardo foi considerado desaparecido por 10 dias, até que seu corpo foi encontrado em uma cova rasa ao lado de um riacho, em Frederico Westphalen, cidade vizinha de onde a família vivia, já em estado avançado de composição. Durante as investigações sobre o caso, a polícia descobriu que ele foi morto no dia 4 de abril de 2014.
Na época do crime, a criança tinha apenas 11 anos e era conhecida na cidade em que vivia – com o pai e a madrasta- por ser maltratados e negligenciado por ambos. Várias testemunhas afirmaram que era comum o menino passar dias fora de casa sem que o pai procurasse por ele, que era visto constantemente com roupas velhas e até passando fome.
Participantes no assassinato
Edelvânia Wirganovicz, amiga de Graciele, também foi julgada e condenada a 23 anos de prisão pela morte de Bernardo enquanto o Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia, teve a condenação fixada em 9 anos e 6 meses por ter ajudado ajudado a enterrar o corpo do menino. O homem nega que tenha auxiliado as duas.
Os réus podem recorrer da decisão, porém apenas para revisar o tempo de pena, já que mudar o resultado necessitaria um novo julgamento popular.
Depoimento madrasta
E enfermeira e madrasta de Bernardo prestou depoimento na manhã desta quarta -foi a primeira vez que Graciele prestou esclarecimentos publicamente sobre o crime – ela chorou e disse que o marido e pai da vítima não tinha culpa no assassinato. “O Leandro não tem nada a ver, só quero o perdão dele. O Leandro não tem nada a ver com isso, é tudo culpa minha”, declarou.
Mesmo após Graciele Ugulini, assumir a culpa pelo assassinato e inocentar o pai da criança ao júri, a promotoria reafirmou que provas mostram o contrário.
Ela ainda afirmou que levou Bernardo com ela na viagem a Frederico Westphalen e que o menino estava muito agitado. Para acalmá-lo, a enfermeira deu cinco doses do medicamento ritalina. “De repente eu olhei, ele estava encostado, babando… levantei a camiseta dele e vi que não tinha movimento respiratório. Chacoalhei, mexi ele e nada”, lembrou.
Graciele Ugulini afirmou à juíza que a amiga Odilaine queria levar de imediato o garoto, já desacordado, ao hospital para receber atendimento. No entanto, a enfermeira admitiu que preferiu esconder o corpo da criança devido à relação dela com o marido e pai de Bernardo. “Admito que dissimulei. Tentei de todas formas agir de forma normal para Leandro não desconfiar”, revelou a enfermeira.
Depoimento do pai de Bernardo
Leandro afirmou que no dia em que o Bernardo sumiu, a família teria almoçado junto e o clima era tranquilo. Na sua versão, a esposa teria dito que levou Bernardo para uma outra cidade para um passeio na casa de um amigo e que desapareceu depois de dizer que ia na casa de um amigo. “Em nenhum momento desconfiei de Keli (apelido de Graciele)”, o médico.
O médico Leandro Boldrini sempre alegou inocência, mas promotoria do Ministério Público sustenta que ele teve participação direta no crime.
Investigações caso Bernardo
O Ministério Público afirmou em sua denúncia que Leandro seria o mentor intelectual do crime e incentivador da atuação de Graciele em todas as etapas. Além de pagar pelas despesas e fornecer acesso à droga Midazolan, utilizada para matar o menino.
O MP também alega que tudo foi motivado porque os dois não queriam compartilhar a herança deixada pela mãe de Bernardo e que o menino representava um estorvo para a nova família, formada pelo médico, a madrasta e a filha do casal, Maria.
O assassinato
As investigações também descobriram que no dia em que foi morto, a madrasta prometeu uma televisão e um aquário para que Bernardo fosse junto com ela até Frederico Westphalen. Sua morte foi causada por uma dose alta de Midazolan, sedativo usado em situações como endoscopia. Devido ao estado de decomposição de seu corpo, não foi possível determinar se ele foi sedado com comprimidos ou injeções.
Também foi comprovado que a cova onde Bernardo foi enterrado foi cavada dois dias antes do crime o que mostra a premeditação. Também foi jogada soda cáustica em seu corpo. Vídeos de câmeras de segurança registraram Graciele e Edelvânia comprando uma pá e soda, no mesmo dia em que cova teria sido feita. O irmão de Edelvânia teria sido envolvido no crime quando foi chamado para abrir a cova, já que as duas não tiveram forças para fazer porque o terreno era cheio de raízes de árvores. Em depoimento nesta quarta, Edelvânia afirmou que abriu sozinha o buraco e que o irmão não teria ligação nenhuma com o crime.
Morte da mãe de Bernardo
Odilane Uglione foi encontrada morta dentro do consultório de Leandro em 2010. Sua mãe, avó de Bernardo, que morreu em 2017, sempre acreditou que sua morte não fora um suicídio como o caso foi tratado.