Pai luta ao lado do filho contra Tumor de Wilms: ‘não pude fazer mais nada além de rezar’

Publicado em 8 ago 2021, às 10h41. Atualizado às 10h42.

A fé e a paciência são dois elementos que movem Adriano Henrique Ramos da Rocha, natural de Reserva do Iguaçu, município do oeste paranaense. Isso porque aos 26 anos, precisou lutar ao lado do filho Gustavo diagnosticado com um câncer raro chamado Tumor de Wilms, o qual representa uma gravidade altíssima por levar à falência parcial ou total dos rins. O costureiro que é casado há seis anos com Shaele Helena Rauber de Campos, 22, hoje mora em Candói com sua esposa e seu filho.   

Gustavo, que tem dois anos de vida, nasceu após uma gestação tranquila e rodeada de muito amor. Segundo Shaele, até março deste ano, o menino sempre foi muito saudável, sorridente, brincalhão, uma criança comum, até que um dia ele apresentou uma febre muito alta

“Levamos nosso filho para o hospital e eles o medicaram para dor de garganta, porque acharam que era isso. A barriga do Gustavo estava bem inchada também, mas disseram que era apenas por causa de gases. Após os exames, voltamos para casa e demos a medicação recomendada, confiando no que tínhamos escutado”,

contou a mãe.

Porém, apesar dos remédios, a febre do menino não baixava, e uma espécie de ingua em sua barriga só aumentava e o causava dor. Ao notarem essas irregularidades, o casal levou a criança a uma UPA de Guarapuava. Logo no primeiro ultrassom, a família se deparou com o começo de uma luta: um tumor foi descoberto no rim direito de Gustavo. Sem saber se era benigno ou maligno, a corrida contra o tempo para salvar o filho começou.  

(Foto: Arquivo Pessoal)

Ser forte em meio às fraquezas

Com a notícia de que a criança precisaria ser submetida a diversos exames, Shaele viu seu mundo desmoronar. Apesar de também muito abalado com a notícia, Adriano precisou assumir o controle da situação tanto pelo seu filho, quanto pela sua esposa. Após isso, a família correu atrás de uma tomografia, já que segundo os médicos, só assim seria possível entender o que realmente o menino tinha. 

Para a tristeza do jovem casal, o exame apontou que Gustavo tinha um câncer raro no rim, conhecido como Tumor de Wilms, no qual afeta majoritariamente crianças. 

“A gente nunca espera que vá acontecer uma coisa assim. Começou tudo muito rápido, chegamos do trabalho e já começamos a correr para hospitais, então o emocional já ficou a mil… Até agora não acredito que conseguimos passar por isso”,

lembra Adriano.

Com o diagnóstico nas mãos e o coração a mil, a família precisou voltar para Candói por causa da fila de espera para o tratamento de Gustavo. Adriano manteve as malas arrumadas, pois sabia que se preciso fosse, ele iria para outras cidades, atrás de maiores chances de cura. 

Adriano emocionado com Gustavo no colo (Foto: Arquivo Pessoal)

A distância como barreira

Os chefes de Adriano conseguiram uma vaga para Gustavo se tratar no Erastinho – hospital localizado na capital paranaense que é referência no tratamento contra o câncer. Adriano não pôde acompanhar a família até Curitiba por causa do trabalho, entretanto, enquanto o menino pedia pela presença do pai, o costureiro disse que só conseguia pensar em seu filho, desejando estar ao seu lado.

“No começo quando eles deram entrada no hospital, eu não tinha cabeça para focar no trabalho, eu só queria estar com ele”,

disse o pai.

Apesar de precisar ficar em Candói para manter o emprego, Adriano sempre esteve muito atento a todo o processo que Gustavo enfrentou, e toda oportunidade que tinha de ir a Curitiba, ele não pensava duas vezes e ia direto ficar com o filho. Por ser um tumor maligno, muito agressivo, o pai acompanhou a luta do menino com muito cuidado e cada vez mais ligado à fé.

A criança foi submetida a várias sessões de quimioterapia e um procedimento cirúrgico para a retirada do rim direito. A estadia da família em Curitiba durou dois meses. Felizmente, foram recebidos na casa de apoio de Daniel Godri que, se impressionou com Adriano por, apesar de ser um jovem pai, se mostrar muito dedicado.

Amigo antes de tudo

Para Shaele, Adriano foi extremamente importante na recuperação de Gustavo. Além de mantê-la calma e acolhida, ou seja, se mostrando realmente a pessoa por quem ela escolheu se casar, o costureiro foi o responsável por manter o sorriso no rosto de seu filho. 

“Ele dizia, ‘Calma, Shele, não podemos nos desesperar’. ‘Calma, Shele, vai dar tudo certo’. Ele se apegou na fé e me deu forças, e com o Gustavo, ele sempre foi assim, calmo e paciencioso. Todo mundo que conhece nosso filho não acredita que ele passou por isso. Porque além de não ter sinais típicos da doença, como vômito e perda de cabelo, ele saia da quimioterapia e ia correndo brincar com o pai”,

contou a mãe.
(Foto: Arquivo Pessoal)

Segundo Adriano, seu sonho era que seu primeiro filho fosse menino, porque apesar da idade, ele sempre “gostou de ser criança”. Quando Gustavo nasceu, o costureiro o amou incondicionalmente e se dedicou com todo o coração.

“Nos finais de semana nós saímos para brincar, vamos cortar o cabelo juntos… o que eu vou fazer ele faz junto. Pra mim, o Gustavo é tudo: é meu melhor amigo, é meu filho, é meu melhor companheiro, simplesmente é tudo para mim”.

Durante o internamento, Adriano lembra que por muitas vezes se pegou pensando sobre uma história bíblica que envolve o sacrifício de um pai e de um filho. De acordo com ele, pensar na passagem o fazia entender que ele deveria se manter ao lado do filho, mesmo fisicamente longe, e o entregar à fé. 

“Eu sei que é difícil, mas é preciso manter a fé, porque é que nem diz aquele ditado: a fé move montanhas. Então se você está passando por isso, reze!”.

O amor que não teve

Apesar de um exemplo de pai, Adriano foi criado pelos avós. Apenas quando tinha 13 anos voltou a morar com seus pais. Porém, seu pai bebia, e segundo o costureiro isso dificultava a relação familiar, já que não haviam abraços, beijos, e até mesmo paz.  

“Minha mãe era mãe e pai, porque meu pai bebia e a gente não tinha muita relação. Hoje, eu digo que minha relação com o Gustavo é espelhada no meu passado, na minha infância, espelhado porque eu não quero que ele passe por o que passei, sabe?”,

contou Adriano.

Atualmente, os pais do costureiro são separados e ele mantém contato com o pai, mas segundo ele, não é a mesma coisa, ele e seu pai são apenas conhecidos. 

“Ser pai significa que você precisa fazer ele sorrir todo dia, sabe?”,

explicou Adriano.

Shaele também diz que não teve uma ligação muito próxima com o pai quando mais jovem, por isso admira o carinho que Adriano tem para com o Gustavo. 

“Acho tão bonita a relação deles, porque estão juntos 24h, sabe? E meu pai nunca esteve tão presente assim”.

(Foto: Arquivo Pessoal)

Ao serem perguntados sobre mais filhos, o casal diz que pretende ter mais dois, mas como ainda a recuperação de Gustavo é recente, a família pretende esperar mais um pouco.