Ailton Pacheco, de 57 anos, trabalhou na mineradora por anos, antes de ter decidido seguir outra atividade; em meio a tristeza, sentiu alívio
A angústia de moradores de Córrego do Feijão, povoado de Brumadinho parcialmente devastado pela tragédia da Vale, aumenta a cada dia. Muitos já não têm mais esperança de um enterro digno às vítimas cujos corpos continuam debaixo da avalanche de lama da mineradora.
O trabalhador rural Ailton Pacheco, de 57 anos, calcula ter perdido mais de uma centena de amigos. Até esta segunda-feira (4), 134 corpos foram localizados e 199 pessoas continuam desaparecidas.
— Tenho certeza: mais de 100 amigos. Também tenho certeza que nem todos serão sepultados. Vão continuar debaixo dos rejeitos.
Pacheco foi operador de máquinas na Vale por anos. Conhecia boa parte dos funcionários da empresa. Hoje, agradece por ter deixado a mineradora. Do contrário, acredita, seria uma das vítimas.
— Moro em Córrego do Feijão há 40 anos. Muitos mortos também viviam aqui. O povoado é como uma família grande.
Pacheco é amigo da comerciante Lídia Silva, de 21. Ela sofre a mesma angústia e encara o drama de ter parentes próximos entre os atingidos pela tragédia da Vale.
— Duas tias minhas continuam desaparecidas. Uma é Dirce Dias, que trabalha numa terceirizada da Vale. Outra é Amarina Ferreira, que trabalhava no restaurante.
O refeitório foi levado pelo mar de lama. Estima-se que o local estava lotado quando a barragem estourou, por volta das 12h30.
Dona Dilei Alves, de 38, também não tem esperança em velar todos os conhecidos mortos pela tragédia:
— Perdi um primo e uma cunhada e vários amigos. Tenho certeza que nem todos serão sepultados. Uma tristeza.