Vítima do tráfico de animais silvestres, um filhote de gato-do-mato-grande foi apreendido pela Polícia Federal (PF) na tarde do último sábado (24), na Ponte da Amizade, fronteira entre o Brasil e o Paraguai. A Polícia Florestal foi acionada e encaminhou o animal para o Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), da Itaipu Binacional.
O macho, que tem idade entre 3 e 4 meses e apenas 940 gramas, está sendo tratado pelos especialistas, mas ainda não se sabe se os cuidados vão bastar. “Ele está com uma deficiência de cálcio grave, provavelmente porque não recebeu a alimentação adequada e ficou muito tempo trancado, sem sol”, explica o médico-veterinário Wanderlei de Moraes, da Divisão de Áreas Protegidas.
Como resultado dos maus-tratos, o filhote está com três membros quebrados e não consegue ficar em pé. Segundo os especialistas do RBV, o animal tem chances mínimas de voltar a andar. “Estamos fazendo uma suplementação de vitaminas e minerais para tentar reverter o quadro de deficiência, hidratando e dando analgésico para reduzir a dor. É o que podemos fazer”, diz Moraes.
Como o gato-do-mato-grande não é um animal típico da região oeste do Paraná, acredita-se que tenha vindo do Mato Grosso, onde é mais comum, ou do chaco paraguaio. É um caso longe de ser raro. Só na última semana, o RBV recebeu dois mãos-peladas (Procyon cancrivorus) e um gavião.
A ave chegou apreendida e com uma espiga de milho na gaiola. “Isso mostra que as pessoas não têm preparo para cuidar de animais silvestres, não sabem qual a alimentação adequada e nem os cuidados necessários. É por isso que o Ibama proíbe a domesticação da fauna silvestre”, comenta o veterinário.
Interferência humana
Os cuidados com os animais que chegam ao RBV acabam dando mais trabalho para a equipe do que os animais habitantes do cativeiro do próprio local. “Recebemos muitas vítimas de atropelamento, como os mãos-peladas que chegaram na semana passada”, conta o médico-veterinário Zalmir Cubas. Os dois machos chegaram com traumatismo craniano – um foi encontrado no Porto Meira e outro na Vila Yolanda.
“Foram os moradores que chamaram a Polícia Ambiental para resgatá-los. Felizmente, ainda tem gente que tem humanidade, que protege os animais e chama ajuda quando vê algum sofrendo”, diz Zalmir.
Ajude
Por mais “bonitinhos” que sejam, os animais são sempre mais belos quando estão livres. Não crie animais selvagens e ajude a combater o tráfico, denunciando para a Força Verde quaisquer casos de maus-tratos e de animais sendo mantidos em cativeiro; e dirija com atenção, principalmente em áreas de reserva. Se encontrar um animal silvestre ferido ou correndo risco, entre em contato com a Força Verde da Polícia Militar do Paraná pelo telefone 0800-643-0304.
Liberdade
E quem fica com esses animais feridos depois que eles se recuperam? Segundo os veterinários, alguns ficam no Refúgio, outros são encaminhados para outros zoológicos e refúgios do país e os sortudos que se recuperam completamente são liberados na natureza – seguindo os procedimentos autorizados pelo Ibama.
Criar animais silvestres sem autorização é expressamente proibido, conforme a Lei 9.605/98. A pena é de seis meses a um ano e a multa chega a R$ 500 por animal. Felinos e aves são vítimas comuns de tráfico e captura para domesticação. Capturados quando filhotes e criados em cativeiro, eles dificilmente conseguem retornar de onde vieram com chances de sobrevivência.