Por mais que exista controvérsia quanto ao Dia do Cinema Brasileiro – 19 de junho ou 5 de novembro? -, esta sexta é importante, porque marca o início de uma promoção imperdível do Espaço Itaú de Cinema. O cinéfilo, e não apenas o paulistano, sabe que o conjunto de salas da Rua Augusta tem sido o abrigo da produção brasileira e independente internacional. Pois, neste dia 19, o Espaço inicia um festival de pré-estreias em seu site, e em parceria com a plataforma Looke Eventos Paralelos.
Serão 11 filmes brasileiros e oito estrangeiros – 19, no total. Além de numericamente privilegiar a produção nacional, e por se tratar do Dia do Cinema Brasileiro, um dos onze estará disponível gratuitamente a partir da meia-noite desta quinta, 18, ou zero hora da sexta. Piedade é o novo (grande filme) de Cláudio Assis, o mais brilhante diretor de sua geração e um gigante do cinema pernambucano – com Kleber Mendonça Filho, claro. A seleção do Espaço Itaú Play no festival de pré-estreias online, que vai até dia 29, terá filmes de São Paulo, Rio, Pernambuco, Bahia, Ceará, Minas e Rio Grande do Sul.
Os estrangeiros também são produções de sete países – Afeganistão, Alemanha, Áustria, China, França, EUA, Turquia. Destacam-se o Liberté de Albert Serra, autor catalão tão e até mais transgressor que Cláudio Assis, e, para as feministas de carteirinha, a história jamais contada da primeira cineasta do mundo, Alice Guy-Blanché. Toda essa programação riquíssima e variada estará disponível a partir de sexta, e Piedade, de graça, por um dia, para festejar não apenas o cinema brasileiro, mas a autoralidade. Só filmes de autor.
Cada um permanecerá disponível durante 48 horas, a um ingresso no valor de R$ 10, exceto Piedade, que, por ter seu primeiro dia de graça, terá mais tempo no ar. Produção da República Pureza de Marcelo Ludwig Maia e da Perdidas Ilusões de Assis e Camila Valença – os nomes das empresas já fazem sonhar -, Piedade não é bem o bairro do Recife, mas uma cidade fictícia, fronteira à metrópole que Assis (e Kleber Mendonça) retrata como espelho das desigualdades sociais que são a cara do Brasil. Uma família e seus dramas. Um grande elenco: Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele, Cauã Reymond, Irandhir Santos, Gabriel Leone.
Uma praia interditada – pelos ataques de tubarões e pelo vazamento de uma tal Petrogreen, que de verde tem só o nome. A praia, não por acaso, chama-se Saudade – do tempo em que o País era outro. E há, ainda, o cinema pornô, cenário de cenas ousadas.
Todo filme de Assis é pessoal, uma experiência no limite, mas esse é mais. “Cauã faz o papel do meu irmão que foi roubado na maternidade. Passei anos procurando esse irmão. Fernanda é minha mãe, Irandhir sou eu”, disse no debate do filme, no Festival de Brasília do ano passado.
Os demais filmes brasileiros incluem Três Verões, de Sandra Kogut, a crise brasileira retratada ao longo de três temporadas, e a apoteose, o fecho, a Verde-e-Rosa, Mangueira em Dois Tempos, de Ana Maria Magalhães.
Em tempo: o 19 de junho foi quando o italiano Afonso Segreto fez as primeiras imagens do Brasil, captadas de um navio que chegava à baía de Guanabara, em 1898. O 5 de novembro foi celebrado durante anos porque, segundo Carlos Ortiz em sua pioneira história do cinema no Brasil, teria sido a data da primeira filmagem feita no País – pelo português Antônio Leal, em 1907. A Ancine instituiu o 19 de junho como data oficial.
Do total arrecadado, 20% do valor será destinado à APRO (Associação Brasileira da Produção de obras audiovisuais), para auxiliar os profissionais do audiovisual afetados pela pandemia. E, após a exibição online, os títulos desse festival entrarão em cartaz no circuito Itaú Cinemas, em datas a serem definidas posteriormente, conforme plano de retomada das autoridades sanitárias.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.