Presidente da Anvisa pede que Bolsonaro o denuncie ou se retrate por insinuação
SÃO PAULO (Reuters) – O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Antonio Barra Torres, pediu em nota divulgada na noite deste sábado (8) que o presidente Jair Bolsonaro o denuncie e abra uma investigação contra ele e funcionários da Anvisa ou que se retrate das insinuações que fez nesta semana sobre o órgão regulador que autorizou a vacina da Pfizer contra Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos.
“Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senhor presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa. Aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar”, afirmou Barra Torres na nota.
“Agora, se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente. Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário”, concluiu.
Polêmica vacinação das crianças
Em entrevista na quinta-feira (6), Bolsonaro, que frequentemente e sem base científica coloca em dúvida a eficácia das vacinas, indagou o que estaria por trás da decisão da Anvisa de autorizar o imunizante da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos e qual seria o interesse da agência ao tomar a decisão, afirmando que a medida não teve como baliza a preocupação com a saúde da população.
Na ocasião, o presidente também repetiu informações falsas de que a Covid-19 não vitimou crianças no Brasil e que as vacinas não tiveram sua segurança e eficácia atestadas para esta faixa etária.
“Você vai vacinar teu filho contra algo que o jovem por si só a possibilidade de morrer é quase zero? O que está por trás disso? Qual é o interesse da Anvisa por trás disso? Qual é o interesse das pessoas taradas por vacina? É pela sua vida? Pela sua saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças, e não estão. Quando se trata de criança, não se deixe levar por propaganda”, disse o presidente, que também classificou de “lamentável” a decisão da agência.
Em sua nota, Barra Torres, que é contra-almirante da Marinha e foi indicado a uma diretoria da Anvisa e posteriormente ao comando da agência por Bolsonaro, afirmou que, em sua vida como médico e militar, não acumulou riqueza e que nunca se apropriou do que não fosse seu. Disse ainda que jamais levantou falso testemunho.
“Como cristão, senhor presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho”, disse Barra Torres.
“Vou morrer sem conhecer riqueza senhor presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter”, acrescentou.
Por Eduardo Simões