Projeto de reutilização transforma lona de banners em aventais para cooperativas
Em uma iniciativa de professoras da Universidade Estadual de Londrina (UEL), banners que seriam descartados ganham um novo destino. Junto a grupos de costura do Programa de Economia Solidária, a lona se transforma em aventais de proteção para cooperativas de reciclagem.
O projeto Lonarte surge com o objetivo de prolongar a vida útil do material. A lona, que seria jogada em aterros sanitários, é convertida em Equipamento de Proteção Individual (EPI) para catadores de resíduos. Na natureza, o tempo de decomposição dessa lona é de 400 anos e é de difícil reciclagem, por ser formado de PVC e poliéster.
A produção dos aventais é feita por dois grupos de costura do Programa de Economia Solidária de Londrina: o Marrecas, do distrito de Irerê, e o Retraço Novo, do distrito de Lerroville. Eles são formados por pessoas em situação de vulnerabilidade social. Os projetos oferecem capacitações para que os envolvidos consigam gerar renda própria.
“De tudo que eu tenho feito na universidade, esse é o projeto que consegue dar conta dos três pilares principais da sustentabilidade: a questão ambiental, a questão social e a questão econômica […]. É um privilégio poder trabalhar com uma coisa que eu gosto tanto e conseguir ver que você consegue transformar um pouco a realidade. Conseguimos impedir muito banner de ir para o lixão”,
explica a professora de design, e uma das integrantes do projeto, Camila Doubek.
Como funciona?
Lonarte é um projeto de extensão da UEL formado pela professora de design, Camila Doubek e pela coordenadora do programa de gestão ambiental da universidade, Maria José Sartor. Também participam as alunas Beatriz Costanzi e Natalia Azorli, que cursam administração e design de moda, respectivamente. O início foi em 2019, quando perceberam a quantidade de banners que eram descartados.
“Pensamos em reaproveitar esse material fazendo produtos. Inicialmente, as sacolas, porque tem muito evento na UEL e o pessoal fica comprando sacolas fora para entregar os kits. Pensamos em produzir em grupos de costura da Economia Solidária de Londrina, gerar renda para esses grupos […]. Quando retomamos os trabalhos [após a pandemia], não tinha mais a demanda das sacolas porque não estavam tendo eventos presenciais. Então surgiu a demanda de avental para os cooperados das cooperativas que fazem a triagem de resíduos recicláveis aqui de Londrina”,
conta a professora Camila Doubek.
As integrantes projetaram um modelo de avental e produziram incialmente 40 unidades. Os banners vêm da universidade e de outros locais. Hoje em dia, o projeto tem o objetivo de atender todas as cooperativas da cidade com uma produção de cerca de 400 aventais. O custo da mão de obra é fruto de doações de empresas e arrecadação pela internet.
“Fizemos uma melhoria desses primeiros 40 aventais. Percebemos que eles se desgastaram muito rápido, então, para essa segunda leva, mudamos um pouco o desenho do próprio avental para vestir melhor. Fizemos uma faixa dupla de banner no lugar onde eles encostam a barriga na esteira, que é onde estava estragando muito rápido, e também fizemos a testagem de qual lado do banner era mais resistente”,
explica a professora de design.
Vidas transformadas
Mirian Oliveira de Paula tem 48 anos. Há três, faz parte do grupo de costura Retraço Novo. Ela conta que, quando entrou para o Programa de Economia Solidária, estava desempregada. Por 15 anos, trabalhou como doméstica, em Londrina. Há um ano, Mirian também começou a fazer parte do projeto Lonarte.
“Essa experiência tem sido muito maravilhosa. Temos aprendido bastante coisas novas, que, a cada dia, procuramos aprender mais. É muito bom porque traz renda para o nosso próprio município e tem ajudado bastante, aqui, as meninas. Somos quatro, e tem mais uma, que é a nossa ajudante”,
explica Mirian sobre a importância do projeto na sua vida.
Marinete Malaquias Ferreira, 52, aprendeu a costurar através das oficinas do programa. Ela é cabeleireira e manicure e, hoje, faz parte do grupo de costura Marrecas. Há dois anos, ingressou no projeto Lonarte. Ela e as outras duas mulheres do grupo têm participado de oficinas de empreendedorismo e organização financeira.
“Para mim, é um privilégio poder ajudar a natureza evitando de jogar esse material nela, porque ele demora muito para decompor. E é um privilégio, também, poder ajudar minha família financeiramente fazendo parte desse projeto. Estou aprendendo muitas coisas novas com o grupo”,
conta Marinete.
Novos planos
A produção dos 400 aventais para as cooperativas de reciclagem de Londrina está na fase dos orçamentos. Enquanto isso, Camila já faz novos planos para o projeto. A professora revela que, além de continuar com a produção dos aventais, pensa em retomar a produção das ecobags. Além disso, pretende fazer produtos para moradores de rua, como casulos e colchões. Como explica Camila, “ideias que precisam ser testadas”.