ONG garante que contaminantes chegaram ao São Francisco (Foto: Reprodução/SOS Mata Atlântica)

Estudo encontrou metais pesados na Represa de Três Marias muito acima do nível aceitável; ONG alerta que monitoramento deve ser constante

Responsável por um estudo técnico que garante que os rejeitos de minério de ferro da barragem que se rompeu em Brumadinho (MG) contaminaran o rio São Francisco, a Fundação SOS Mata Atlântica reafirma o alerta sobre a situação de um dos mais importantes rios do Brasil, mesmo com a negativa do Ibama e da Vale.

Tragédia em Brumadinho afeta Rio São Francisco

“Há sim carreamento de contaminantes no rio São Francisco. Não é na forma de lama, que deixa o rio com aquela cor de ferrugem. Mas os mesmos contaminantes que foram carreados desde o rio Paraopeba já estão ultrapassando o reservatório (de Três Marias). Ali já é Alto São Francisco”, afirma a coordenadora do Programas de Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro.

A ONG mediu os níveis de qualidade da água em 12 pontos ao longo do Rio Paraopeba, desde o leito mais próximo ao local do rompimento da barragem, até a represa de Três Marias, onde um braço do rio se encontra com as águas do Rio São Francisco. “Com base nos indicadores da qualidade da água medidos em 12 pontos de análise distribuídos no Rio Paraopeba, no reservatório de Retiro Baixo e nos pontos à jusante da barragem até o Reservatório de Três Marias” a qualidade da água estava “em desconformidade com o padrão de classe 2, com qualidade ruim”, afirma o estudo.

“Esse resultado obtido em pontos à jusante da barragem de Retiro Baixo indicam que já está ocorrendo carregamento da pluma de rejeitos, com aumento nos índices de metais pesados e na turbidez”, afirma a Fundação, em nota enviada à reportagem.

Metais pesados

Especificamente sobre o reservatório de Três Marias, os três pontos analisados apresentaram qualidade regular, portanto, ainda dentro dos padrões legais de uso. No entanto, conforme a SOS Mata Atlântica, “há desconformidade em níveis muito elevados para metais pesados: cromo, cobre, ferro e manganês. Esses metais foram encontrados nas águas do Paraopeba, ao longo de toda extensão impactada pelos rejeitos de minério”.

Na nota técnica, o Ibama diz que os dados oficiais de qualidade de água foram coletados em 21 pontos distribuídos ao longo da bacia, contemplando inclusive os reservatórios das UHEs Retiro Baixo e Três Marias. E que, de acordo com o Igam (Instituto de Gestão das Águas), “até a presente data não se observam alterações na qualidade das águas na estação de amostragem localizada a jusante da Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo que indiquem a chegada da pluma de rejeitos neste trecho”. O órgão também diz que não é possível afirmar quando e se os rejeitos chegarão ao reservatório de Três Marias.

De acordo com a pesquisadora Malu Ribeiro, os estudos não podem ser comparados, já que não têm a mesma metodologia e a coleta da água foi feita em dias e horários diferentes. No entanto, ela assegura que os órgãos oficiais, as associações independentes e a sociedade civil, como um todo, devem ficar alertas e ampliar o monitoramento da qualidade das águas.

— Como foi feito no Rio Doce (após rompimento da barragem de Fundão), tem que haver monitoramento ao longo de todo o rio e não somente em alguns poucos pontos. Isso é um alerta para que as autoridades aumentem o monitoramento, e tambem à Vale, que é responsável por isso.