O papel e os limites da polícia durante uma abordagem

Publicado em 31 out 2023, às 19h58.

A relação entre a polícia e a sociedade é um dos pilares da manutenção da ordem pública e da garantia de segurança. No Brasil, a polícia desempenha um papel crucial na prevenção e no combate ao crime. No entanto, as abordagens policiais são um tema de constante debate e preocupação. Afinal, quais são os direitos dos cidadãos e os limites dos policiais durante uma abordagem?

A abordagem policial é um procedimento legalmente estabelecido, utilizado como ferramenta para a prevenção e investigação de crimes. O Código de Processo Penal, em seu artigo 244, estabelece que a busca pessoal será realizada quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo objeto obtido por meio criminoso ou utilizado para a prática de infração penal. Embora a lei não defina exatamente o que seria “fundada suspeita”, a jurisprudência e a doutrina apontam para a necessidade de indícios concretos que justifiquem a ação.

Durante a abordagem, é fundamental que os policiais se identifiquem e expliquem o motivo da ação. A transparência e a comunicação clara são essenciais para assegurar que a abordagem seja realizada dentro dos parâmetros legais e com respeito à dignidade da pessoa.

Os direitos dos cidadãos durante uma abordagem são inalienáveis. A Constituição Federal, em seu artigo 5º, assegura uma série de garantias individuais, como o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. A violação de qualquer um desses direitos durante uma abordagem policial é inadmissível.

É importante destacar que o uso da força pela polícia deve seguir o princípio da proporcionalidade. Isso significa que a força só pode ser utilizada quando estritamente necessário e na medida adequada para atingir um objetivo legítimo. O uso excessivo ou desproporcional da força é considerado abuso de autoridade.

As abordagens policiais também devem ser realizadas sem qualquer tipo de discriminação. Práticas discriminatórias, como o chamado “perfilamento racial”, onde indivíduos são selecionados para abordagens com base em sua etnia, cor ou origem, são expressamente proibidas. Essa prática viola o princípio da igualdade e contribui para a perpetuação de estereótipos e preconceitos.

Outro aspecto relevante é o direito ao silêncio. Durante uma abordagem, o cidadão tem o direito de não declarar nada que possa incriminá-lo. Além disso, em caso de detenção, é assegurado o direito a um advogado e a comunicação imediata da prisão a um familiar ou pessoa de confiança.

A filmagem da abordagem policial por parte do cidadão ou de terceiros é um tema que tem ganhado destaque. Embora não haja uma legislação específica sobre o assunto, o entendimento predominante é de que filmar uma ação policial é um direito, desde que essa filmagem não interfira na ação policial.

A formação e o treinamento dos policiais são fundamentais para garantir que as abordagens sejam realizadas dentro dos limites legais e com o respeito devido aos direitos dos cidadãos. É essencial que os policiais estejam preparados para lidar com situações adversas e saibam aplicar a lei de forma justa e equilibrada.

Por fim, é crucial que existam mecanismos eficazes de responsabilização em casos de abuso de autoridade. A impunidade contribui para a perpetuação de práticas ilegais e prejudica a confiança da sociedade na polícia. Por outro lado, a valorização do trabalho policial e o reconhecimento de ações realizadas dentro da legalidade são igualmente importantes para a construção de uma relação de respeito mútuo entre polícia e sociedade.

Em conclusão, as abordagens policiais são uma ferramenta vital para a manutenção da segurança pública. No entanto, é imprescindível que sejam realizadas com respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos e dentro dos limites estabelecidos pela lei. Uma polícia que age com profissionalismo, respeito e legalidade é peça-chave para a construção de uma sociedade mais justa e segura para todos.

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