por Daniela Borsuk
com colaboração de Bruna Melo, Renan Vallim, Amauri Gross, Fernanda Deslandes, Guilherme Fortunato e Eduardo Igor

Com a crescente transmissão do vírus Monkeypox, conhecido como causador da varíola dos macacos, é possível observar o aumento de diagnósticos positivos da doença no Paraná, que atualmente ocupa a 6º posição na lista de estados com mais casos confirmados do Brasil e a 1º do Sul do país. Conforme o último boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) do Paraná, publicado nesta quarta-feira (24), há 105 pacientes infectados e 155 casos suspeitos no estado.

De acordo com o boletim do Ministério da Saúde do dia 23 de agosto, com relação ao número de casos confirmados de Monkeypox, o Paraná está atrás apenas de São Paulo, com 2.567 casos confirmados; Rio de Janeiro, com 472 casos confirmados; Minas Gerias, com 216 casos confirmados e mais 1 óbito em decorrência da doença; Goiás, com 161 casos confirmados, Distrito Federal, com 156 casos confirmados; e por fim o Paraná, com 104 casos confirmados neste boletim.

O Paraná é o estado que acumula mais diagnósticos positivos de varíola dos macacos no Sul do país. Rio Grande do Sul tem 65 casos confirmados e Santa Catarina tem 61 confirmações. Além disso, três estados do Brasil ainda não registraram nenhum caso confirmado, são eles: Amapá, Rondônia e Sergipe, conforme dados do Ministério da Saúde. Ao todo, são 3.984 casos confirmados no país e mais 4.464 casos suspeitos.

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Aumento de casos de varíola dos macacos no Paraná

Os boletins publicados pela Sesa apontam um aumento no número de casos confirmados da doença e, principalmente, mostram como o vírus tem se espalhado pelo estado, tendo pacientes infectados agora em 14 cidades do Paraná.

Confira as cidades com pacientes com varíola dos macacos no Paraná:

Conforme os dados mais atualizados divulgados pela Secretaria, as macrorregionais Leste, Oeste, Norte e Noroeste já têm a presença do vírus. Os casos estão confirmados nas cidades de Curitiba (Leste), com 84 casos; Almirante Tamandaré (Leste), com 1 caso, Araucária (Leste), com 2 casos; Paranaguá (Leste), com 3 casos; Campo Largo (Leste), com 1 caso; Colombo (Leste), com 2 casos; São José dos Pinhais (Leste), com 1 caso; Cascavel (Oeste), com 3 casos; Foz do Iguaçu (Oeste), com 1 caso; Londrina (Norte), com 3 casos; Tomazina (Norte), com 1 caso; Paranavaí (Noroeste), com 1 caso, Maringá (Noroeste), com 1 caso; e Santa Fé (Noroeste), com 1 caso.

Veja o comparativo de boletins da doença por macrorregional:

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Protocolo da Sesa | Do sintoma ao diagnóstico

Para controlar a transmissão da doença e fazer o tratamento adequado aos infectados em todo o estado, a Sesa publicou uma nota de orientação no dia 2 de agosto para capacitar os profissionais de saúde paranaenses. No documento, a Secretaria explica que o vírus Monkeypox se trata de uma “doença zoonótica viral”, que pode ser transmitida para humanos em contato com outros humanos ou animais infectados.

Ainda, fala sobre o período de sintomas, que em geral é de duas a quatro semanas, e que a transmissão ocorre por meio de contato pessoal com secreções respiratórias, lesões de pele de pessoas infectadas ou objetos recentemente contaminados. A principal característica da doença é a erupção cutânea, que pode começar nas áreas genital e perianal, além de sintomas como febre, dor de cabeça, nódulos e inchaço e dor pelo corpo.

De acordo com a nota, quando um paciente começar a sentir os sintomas e procurar um médico, seja em uma Unidade Básica de Saúde, um Pronto-Atendimento ou um consultório particular, ele deverá ser atendimento, preferencialmente, em uma área de isolamento. A orientação é para que o paciente proteja ou cubra as lesões na pele que estejam expostas, usando lençol ou avental, para evitar a transmissão. Se a situação for grave, o paciente poderá ser internado, também em local isolado.

Notificações de casos

Os casos suspeitos, em qualquer unidade de saúde, deverão ser notificados imediatamente por telefone à vigilância epidemiológica de cada município, que a seguir informa, também imediatamente por telefone, à Regional de Saúde que atende a região e ao Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) do Paraná, departamento da Sesa. Além disso, todos os casos são registrados, via formulário eletrônico, no sistema do Ministério da Saúde.

Depois da notificação inicial, uma mostra da crosta da lesão é coletada para realização do exame de diagnóstico. Apesar da nota citar diversos laboratórios, como no Rio de Janeiro e Santa Catarina, a Sesa informou ao RIC Mais, via assessoria de imprensa, que os exames atualmente são encaminhados ao Laboratório Central do Estado no Paraná, (Lacen-PR) e, depois, ao Instituto Adolfo Lutz-SP (IAL), em São Paulo.

A estimativa do tempo de resultado é de 7 a 10 dias, a depender da necessidade de repetição dos exames em casos inconclusivos. Durante o período, o paciente é colocado em isolamento domiciliar e monitorado. Caso o resultado seja positivo, o infectado fica, em média, de três a quatro semanas em isolamento, até que as crostas das lesões tenham caído e uma nova camada de pele tenha se formado por baixo.

Com relação às vacinas, elas ainda não estão disponíveis para a população geral e, segundo a Sesa, a vacinação universal ainda não é indicada no momento.

Atendimento ao paciente com varíola

O RIC Mais conversou com duas médicas infectologistas que atendem em hospitais, pronto-atendimentos e consultórios em Curitiba, e que já tiveram contato com pacientes que positivaram para a varíola dos macacos. Elas contaram como suspeitaram do diagnóstico e indicaram o tratamento para os pacientes.

De acordo com a médica Dra. Camila Lopes Ahrens, ela atendeu um paciente por telemedicina, que tinha feito uma viagem ao exterior. Devido a ele estar com muita dor, receitou medicamentos para tratar os sintomas, como analgésicos e pomadas. Conforme observou, além de lidar com a doença, os pacientes acabam ficando muito ansiosos por causa da necessidade do longo tempo de isolamento.

“Ansiedade de voltar rápido às atividades, muita dor, dor no corpo, dor de cabeça, mal-estar, durante todo o período. É uma doença bem desconfortável, com muita lesão anal, peniana, na boca, o que causa dificuldade para comer”,

contou a médica.

Camila ainda frisou a necessidade de um cuidado mais próximo em casos de pacientes imunossuprimidos, transplantados, crianças e gestantes. Segundo ela, o Monkeypox pode se desenvolver com gravidade principalmente neste público, causando infecções secundárias, meningite, pneumonia, broncopneumonia e até doenças oculares. Em alguns casos, os pacientes podem até mesmo ficar cegos caso o vírus atinja as córneas.

Já a médica infectologista Fernanda Pedroso, destacou a importância do diagnóstico para que o paciente faça o isolamento correto e explicou que a doença se manifesta de formas diferentes, em alguns casos sem a presença de ínguas e febre.

“De uma forma geral, o que eu tenho feito em consultório, em hospital, a gente tem treinado os profissionais de saúde para a suspeição, e também os populares, as pessoas que não são da área, as pessoas que estão junto, para desconfiarem de qualquer lesão atípica, com quadros de mal-estar, às vezes é um quadro bem inespecífico, começa com uma lesão que não está acostumado, essa lesão acaba evoluindo… está em dúvida? Procure atendimento”, alertou a médica.

Fernanda também frisou que a melhor forma de combater a doença é fazendo o diagnóstico e seguindo com o isolamento e tratamento.

A médica infectologista explica como é o tratamento da varíola dos macacos:

A infectologista Fernanda enfatizou que é preciso tomar cuidado para não estigmatizar a doença. “Uma coisa que eu quero salientar, é que a gente tem visto bastante as pessoas dizendo ‘ah, vamos proibir as pessoas de fazerem sexo pois é uma doença que está relacionada ao sexo’… é uma doença sexualmente transmissível? A gente não tem isso, não tem vínculo com sêmen, é pouco provável que tenha relação com o sêmen, e sim com o contato. A grande questão é que começou com lesões perianais que se passaram”, apontou.

“Não é para a gente criar um alarde de que a população mais contaminada é a população de homens que fazem sexo com homens, de pessoas bissexuais, não. É para a gente tentar entender que, neste momento, a nossa epidemiologia é essa população e que a gente tem que tentar controlar. Mas qualquer pessoa é vulnerável e pode ter a Monkeypox”,

acentuou.

Paciente diagnosticado com Monkeypox conta como foi lidar com a doença

Thiago Santana Leite, de 32 anos, é contador, teve diagnóstico positivo para a doença em julho e contou ao RIC Mais como foi lidar com a doença, que definiu como “uma das piores experiências que teve na vida”. Ele viajou para Nova Iorque e, na volta, começou a perceber os sintomas, que começaram no dia 14 de julho.

“Eu estava de férias em Nova Iorque. Cheguei no domingo em Curitiba e na quinta comecei com sintomas de febre alta e ínguas na virilha. No outro dia já tinha saído feridas na genital. Fui ao médico e foi descartado IST, porém aí veio a suspeita do MonkeyPox”, explicou. Thiago ainda disse que os principais sintomas que se manifestaram foram “muita febre, feridas extremamente doloridas na genital e ínguas na virilha muito inchadas e doloridas”.

O tratamento indicado para o caso foi o uso de antibióticos e remédios para dor e febre. “Fiquei isolado em casa por quase quatro semanas a base de remédios”, contou.

“Foi uma experiência horrível, umas das piores que tive na vida. Os banhos eram desconfortáveis, usar roupa íntima era desconfortável. Só queria ficar deitado”,

desabafou.

Agora, recuperado, o contador já voltou à rotina e ficou apenas com uma cicatriz no braço, devido as lesões na pele.

Como evitar o Monkeypox

De acordo com a Dra. Fernanda, os cuidados aprendidos com a Covid-19 podem ser utilizados para evitar o contágio da varíola dos macacos: “A gente sabe que existe uma transmissão por gotícula, por isso a gente tem usado máscara, principalmente em pacientes que têm lesão oral, pois eles podem expelir gotículas salivares e a saliva estar contaminada com vírus. Mas é bem menos do que a Covid, muito mais pelo contato, isolamento de contato”.

“As pessoas adquirem muito mais pelo contato prolongado com as lesões. Por isso a gente fala, quando o paciente tem lesões na pele, nas mãos, e precisa sair de qualquer jeito, ele vai de máscara e precisa cobrir essas lesões, e usar alguma luva, alguma coisa se tiver lesão na mão, por exemplo. O ideal é que não se saia”,

ressaltou.

A médica ainda disse que, por conta disso, é ainda mais necessária a higienização de mãos: “O álcool em gel 70% dá conta sim de combater esse vírus, a máscara sim, a máscara sempre, e higienizar as superfícies”.

24 ago 2022, às 19h11. Atualizado às 19h20.
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